Nota de Pesar: um brinde a Dirceu
Nota de pesar
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Morreu Dirceu na madrugada de hoje.
Dirceu era muitos.
Partiu deixando um buraco no peito daqueles que o conheceram mais de perto. E uma lacuna imensa na reflexão sobre Alagoas. Foi um grande inspirador na formação de uma geração de antropólogos, sociólogos, historiadores que lhe seguiram os passos ou o tomaram sua obra como inspiração. Dirceu transitava com elegância em áreas diversas: História, Antropologia, Literatura... Sua partida deixa saudades: saudades do intelectual, do pesquisador, do tradutor e do homem.
Conheci Dirceu Lindoso no final dos anos 90. Eu havia ido à sua casa, em Maragogi, acabara de ler o seu Alagoas Boreal e estava muito animada com a possibilidade de uma conversa com ele. Fui sem avisar e, chegando, apresentei-me e pedi desculpas por ter ‘invadido’ sua casa sem aviso prévio. Ele, muito simpático, cumprimentou-me e me levou a um terraço no primeiro andar, de onde se podia ver boa parte de Maragogi. Então me disse: “você está preocupada de ter invadido minha casa, mas olhe (e apontou a vastidão de terras que víamos daquele terraço alto), tudo isso aqui foi invasão”, e rimos muito.
O intelectual Dirceu foi um homem de muitos talentos, irreverente, autodidata. Não se ateve a instituições acadêmicas – Que bom! Fora da Universidade, Dirceu passeou com liberdade por temas os mais diversos, bem à maneira de seu espírito livre. Seu valor como intelectual, para nós, cientistas sociais, e para profissionais de áreas afins, é imenso. Dirceu escreveu sobre o território alagoano como poucos, abordou eventos, épocas, regiões, de maneira sagaz e poética. Produziu muitos livros. E partiu. Deixou-nos com sua escrita fluente e erudita. Dirceu vive em seus livros.
Dirceu também vive nas homenagens que nós do Instituto de Ciências Sociais (ICS) tivemos a honra de lhe prestar: o título de doutor honoris causa concedido pela Universidade Federal de Alagoas e a medalha Manuel Diégues Júnior, durante evento comemorativo dos 10 anos do ICS. Mas Dirceu tem muitos títulos. Todos merecidos. E outros tantos que deveria ter. Todo pesquisador que escolhe Alagoas como objeto de estudo conheceu ou irá conhecer Dirceu Lindoso, autor indispensável para pensar esse local. Dirceu eterno. Viverá através da sua obra e também através das produções que lhe dão vida. É esse mesmo o sentido da frase tão conhecida: ‘vai-se o homem e a obra fica’.
Como diria o poeta: outros passarão, Dirceu passarinho.
Rachel Rocha de Almeida Barros
Instituto de Ciências Sociais da UFAL