NADA VEM DE GRAÇA: PARTIDOS E CUSTO DO VOTO NO BRASIL
DISCENTE: KLEYTON RODRIGO OLIVEIRA DE FARIAS; ORIENTADOR: JOSÉ ALEXANDRE DA SILVA JÚNIOR
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
KLEYTON RODRIGO OLIVEIRA DE FARIAS
Nada vem de graça: Partidos e custo do voto no Brasil
Maceió – AL
Outubro de 2018
KLEYTON RODRIGO OLIVEIRA DE FARIAS
Nada vem de graça: Partidos e custo do voto no Brasil
Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação apresentado ao curso de
Ciências Sociais da Universidade Federal
de Alagoas, como requisito parcial para
obtenção do título de Licenciado em
Ciências Sociais.
Orientador: Prof. Dr. José Alexandre da
Silva Júnior
Maceió – AL
Outubro de 2018
Folha de Aprovação
KLEYTON RODRIGO OLIVEIRA DE FARIAS
Monografia aprovada em ____/____/_______ pela Banca Examinadora na Universidade Federal
de Alagoas – UFAL, Instituto de Ciências Sociais - ICS, do Curso de graduação em Ciências
Sociais - Licenciatura.
_________________________________________________
Prof. Dr. José Alexandre da Silva Júnior, UFAL - Orientador
Banca Examinadora:
___________________________________________________________
Prof. Dr. Ranulfo Paranhos dos Santos Filho, UFAL - Examinador Interno
___________________________________________________________
Prof. Dr. Marina Felix de Melo, UFAL - Examinador Interno
Maceió – AL
Outubro de 2018
RESUMO
Qual o efeito do tamanho dos partidos no custo do voto dos candidatos? O objetivo desta
monografia é testar a hipótese de que o tamanho dos partidos exerce um efeito negativo no
custo do voto dos candidatos. Para fazer a análise foi montado um banco de dados com uma
amostra de 9052 casos presentes nas eleições de 2010 e 2014. A nossa variável dependente
é o custo do voto, uma razão entre o montante da receita e dos votos recebido pelos
candidatos. Metodologicamente foram utilizados estatística descritiva e comparação entre
médias como técnicas de análise. Os resultados da pesquisa apontam que há uma diferença
estatisticamente significativa entre as médias do custo do voto dos três grupos de partidos
analisados. Complementarmente os resultados mostraram haver diferença estatisticamente
significativa entre as médias do custo do voto dos candidatos mandatários e desafiantes em
todos os extratos de partidos.
Palavras-chave: Tamanho dos Partidos, Desempenho Eleitoral, Efeito Jacobson.
ABSTRACT
What efect the size of parties implies on the cost of the incumbents and challengers votes?
The purpose of this paper is test the hypothesis that size of parties has a negative effect on
the cost of candidates' votes. To do the analysis was set up with a sample of 9052 cases in
the 2010 and 2014 ellections. Our variable dependents is the cost of the vote.
Methodologically, we were used descriptive statistics and means comparations as technical
of analysis. The results of the research point to a statistically significant difference between
the means of the three party groups. In addition, their results point to a statistically
significant difference between the means of incumbents end challenger in all party groups.
Keywords: Size of Parties, Electoral Performance, Jacobson Effect.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Custo do voto..........................................................................................................25
Gráfico 2 – Custo do voto por tamanho do partido.....................................................................26
Gráfico 3 – Zscore do custo do voto por tamanho do partido.....................................................27
Gráfico 4 – Custo do voto em Log na base 10............................................................................28
Gráfico 5 – Custo do voto em Log na base 10 por tamanho do partido.......................................29
Gráfico 6 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos..........................33
Gráfico 7 – Custo do voto de acordo com a situação do candidato.............................................35
Gráfico 8 – Zscore do custo do voto de acordo com a situação do candidato..............................36
Gráfico 9 – Desafiantes e mandatários de partidos pequenos.....................................................38
Gráfico 10 – Desafiantes e mandatários de partidos grandes.....................................................39
Gráfico 11 – Desafiantes e mandatários de partidos grandes.....................................................40
Gráfico 12 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos 2010...............46
Gráfico 13 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos 2014...............47
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Desenho de Pesquisa...............................................................................................23
Quadro 2 – Lista de Variáveis....................................................................................................24
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Média do custo do voto em log na base 10 por tamanho dos partidos........................29
Tabela 2 – Frequência dos partidos nas unidades federativas (2010-2014)................................30
Tabela 3 – Medidas descritivas dos grupos................................................................................31
Tabela 4 – Diferença entre as médias do custo do voto log 10....................................................32
Tabela 5 – Analise descritiva.....................................................................................................32
Tabela 6 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e médios.........34
Tabela 7 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e grandes........34
Tabela 8 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos médios e grandes............34
Tabela 9 – Comparação entre médias do custo do voto entre mandatários e desafiantes............37
Tabela 10 – Comparação entre médias do custo do voto de mandatários e desafiantes de acordo
com o tamanho dos partidos.......................................................................................................37
Tabela 11 – Diferença entre as médias do custo do voto log 10 (2010 e 2014)...........................46
Tabela 12 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e médios (2010
e 2014).......................................................................................................................................47
Tabela 13 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e grandes (2010
e 2014).......................................................................................................................................47
Tabela 14 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos médios e grandes (2010
e 2014).......................................................................................................................................48
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
CAPÍTULO 1
1.1 Financiamento de campanha e desempenho eleitoral.....................................................12
1.2 O Efeito Jacobson..............................................................................................................16
CAPITULO 2
1.1 A importância dos partidos políticos no processo eleitoral.............................................18
CAPITULO 3
Metodologia e resultados
3.1 Introdução..........................................................................................................................23
3.2 resultados...........................................................................................................................25
3.3 Variação do efeito Jacobson..............................................................................................35
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................41
REFERÊNCIAS......................................................................................................................43
ANEXOS..................................................................................................................................46
INTRODUÇÃO
Qual o efeito do tamanho dos partidos no custo do voto dos candidatos? A maior parte
da literatura especializada acredita que o financiamento de campanha é um item fundamental
para o sucesso eleitoral dos candidatos (Figueiredo Filho, 2012; Lemos, Marcelino e Pederiva,
2010; Peixoto, 2010). Todavia, acredita-se que o financiamento tem maior potencial dentre os
candidatos que não estão na disputa pela renovação do mandato. Ao que parece, a literatura
toma por base os estudos realizados por Gary Jacobson para a Câmara dos deputados dos
Estados Unidos. Não sem razão, a diferença do efeito da receita no desempenho eleitoral de
desafiantes e mandatários ficou conhecido como efeito Jacobson (Jacobson, 1978). Depois dele,
outros estudos confirmaram a tese de Jacobson e mostraram que apesar dos candidatos à
reeleição possuírem uma vantagem inicial, geralmente os candidatos desafiantes conseguem se
eleger com investimento menor (Abromowitz, 1988; Ansolabehere e Gerber, 1994; Gerber,
2004). A constatação foi realizada inclusive em países que utilizem sistemas eleitorais
diferentes. No Brasil, por exemplo, alguns trabalhos constataram a presença do efeito Jacobson
na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados (Figueiredo Filho, 2012; Lemos, Marcelino
e Pederiva, 2010; Peixoto, 2010).
Porém, se por aqui o efeito Jacobson é um fato, a relevância dos partidos políticos ainda
é matéria controversa. Para muitos, o caráter personalista do voto retira parte importante do
peso dos partidos na disputa eleitoral (Cain et al, 1987; Manin, 1995; Mainwaring e Torcal,
2005). Normalmente, argumenta-se que eles perdem a propriedade de funcionar como atalhos
informacionais (Telles et al, 2009). Entretanto, para Peixoto (2010) os partidos conservam uma
função importante na medida em que concedem recursos organizacionais. Da mesma forma,
Cervi et al (2015) argumentam que a filiação dos candidatos a partidos grandes tem um efeito
positivo e significativo no desempenho eleitoral.
Para a elaboração desse trabalho, parto do pressuposto de que ambos argumentos são
plausíveis. Desta forma, o objetivo principal é estimar o efeito do tamanho do partido na relação
entre receita e votos dos candidatos. A hipótese de trabalho central é que o tamanho dos partidos
exerce um efeito negativo no custo do voto dos candidatos. Para explicar, a ideia é que
candidatos de partidos grandes reúnem maior visibilidade e atributos não vinculados a receita
de campanha. Especialmente, quando esse candidato está na disputa pela renovação do
mandato. A máquina partidária atua reforçando vantagens que não podem ser compradas, ou
melhor, que só um mandato pode oferecer. Nesse sentido, espera-se que a diferença entre
10
desafiantes e mandatários quanto ao efeito da receita no desempenho eleitoral seja
significativamente maior nos partidos grandes. Para testar essa hipótese foi utilizado técnicas
de estatística descritiva e multivariada. A investigação teve como foco os candidatos a deputado
federal dos dois últimos pleitos (2010 e 2014).
11
CAPITULO 1
O objetivo desse capítulo é fazer uma breve revisão da literatura sobre financiamento
de campanha, particularmente, da relação entre receita e voto. Complementarmente, a revisão
da literatura também abordará questões referentes ao Efeito Jacobson e sua realidade nas
eleições brasileiras para o cargo de Deputado Federal.
1.1 Financiamento de campanha e desempenho eleitoral
Desde Samuels no início da década de 2000, cada vez mais a Ciência Política vem se
preocupando com a questão do financiamento de campanha no Brasil. Para Mancuso (2015)
tais questões são cruciais para o aprimoramento da democracia e, portanto, seria necessário o
conhecimento aprofundado delas. Sendo assim, cada vez mais o financiamento de campanha e
seu efeito sobre as eleições despertam o interesse de políticos, acadêmicos e da opinião pública
(Marcelino, 2010).
Apesar de muitos acreditarem que as doações privadas podem corromper os políticos
afetando negativamente a democracia, muitos defendem que as doações de campanha são
essenciais para a democracia (Marcelino, 2010). Os principais argumentos apresentados pela
literatura especializada diz que corrupção eleitoral, como compra de votos, e o acesso
privilegiado dos financiadores ao poder político seriam possíveis problemas na prática do
financiamento de campanha principalmente corporativo. Por outro lado, características
positivas atribuídas a essa prática são defendidas pela literatura como forma de aprofundar o
sistema democrático. Sendo assim o ato de contribuir financeiramente com os partidos políticos
pode ser considerado como um exercício de participação política (Peixoto 2010).
Parece ser unanime para a literatura especializada que o financiamento de campanha
exerce um efeito positivo e estatisticamente significativo sobre o desempenho dos candidatos,
seja no que concerne ao fato do mesmo conseguir se eleger, seja quanto a relação que existe
com o aumento da média dos votos recebidos por eles (Samuels, 2001; Marcelino, 2010;
Figueiredo Filho, 2009; Peixoto, 2010). Quanto mais os candidatos investem financeiramente
em suas campanhas maior seria a quantidade de votos recebidos pelos mesmos. E isso fica claro
tanto nas eleições majoritárias quanto nas eleições proporcionais. Sendo assim, o aumento da
média de votos recebidos pelos candidatos que investem mais recursos financeiros nas suas
respectivas candidaturas, faz com que eles cheguem mais facilmente ao cargo almejado.
12
Para Samuels (2001a) os mesmos elementos que apoiam compromissos credíveis em
democracias estabelecidas - reputação, iteração e possibilidade de punição - também podem
apoiar um mercado político para financiar campanhas em novas democracias. Embora o Brasil
se ajuste à descrição de uma democracia relativamente jovem, o dinheiro desempenha um papel
importante nas eleições.
Mas como e em que medida as doações de campanha podem afetar o desempenho do
candidato? Um grande número de trabalhos foi analisado para tentar compreender como a
literatura especializada no tema vem lidando com essa questão. E os achados nos dão indícios
de que outros fatores devem ser levados em consideração para essa análise.
Sendo assim, Peixoto (2010) insere-se no debate ao examinar o impacto dos gastos de
campanhas sobre os votos nas eleições de 2006 para os cargos de Deputado Federal e Estadual.
Para mais, não só o efeito do gasto de campanha é analisado pelo autor, mais também os efeitos
de outras variáveis, como gênero, idade, ocupação, partido, estado civil, escolaridade, e filiação
partidária. O autor ainda chama a atenção para a força que demonstra a varável
“Sacerdote/Membro de Seita Religiosa”, assim como a taxa de retorno dos gastos das mulheres.
Para Bolognesi e Cervi (2011) o financiamento de campanha adicionado ao “tempo de
exposição no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral” (HGPE) se mostra relevante. Segundo
os autores tal exposição aumenta o capital político dos candidatos, que consequentemente
diminuiriam suas necessidades de mais gastos de recursos financeiros para a obtenção de mais
votos. Os autores concluem que quem gasta mais recursos financeiros e quem se expõe mais no
Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) tendem a receber mais votos, mas parece que
essas duas variáveis estão interligadas, pelo menos é o que se mostra nas eleições para a Câmara
dos Deputados no Paraná em 2006.
Essas constatações nos mostram que vários elementos podem estar relacionados com o
sucesso eleitoral dos candidatos, ou pelo menos permite compreender que não exatamente o
financiamento de campanha é a única variável que poderia corroborar com essa relação. Em
outras palavras, sabe-se que existe um efeito do financiamento de campanha sobre o voto,
porém é importante ressaltar que outras variáveis podem estar relacionadas a essa implicação.
De acordo com Lemos, Marcelino e Pederiva (2010) os candidatos vencedores
gastariam em média cinco vezes mais do que seus adversários. Todavia, a relação entre receita
e voto sofre influência do contexto e do desenho institucional em que ocorre a disputa eleitoral
(Samuels, 2000). Por exemplo, o desenho institucional estabelece o tipo disputa (majoritárias
13
ou proporcionais), cada alternativa tem impacto na competição e, consequentemente, na relação
entre receita e voto.
Cervi (2010) analisa o efeito do financiamento de campanha oriundos de três fontes
distintas (estatal, pessoas jurídicas e pessoas físicas) separadamente sobre o desempenho dos
candidatos. Ao concentrar seus esforços nas eleições para prefeito nas 26 capitais brasileiras
em 2008, evidencia que as candidaturas que se mostraram com melhor aproveitamento, no que
diz respeito tanto a quantidade de votos recebidos pelos candidatos quanto ao seu sucesso
eleitoral, se mostraram financiadas com recursos originários de pessoas jurídicas, ou seja, de
financiamento de empresas. Dessa forma, o autor conclui que não é qualquer tipo de
financiamento que pode causar efeito positivo e significativo na porcentagem de votos
recebidos pelos candidatos, mas, especificamente o financiamento empresarial.
Focando diretamente no âmbito do legislativo federal, Marcelino (2010) verifica o
impacto dos gastos de campanha nas eleições para a Câmara dos Deputados e para o Senado no
Brasil. Para isso, o autor explora de forma comparada os efeitos dos gastos de campanha nos
distritos eleitorais entre 2002 e 2006. Com o objetivo de identificar qual o impacto que os gastos
de campanha exercem em cada distrito, o autor chega à conclusão que apesar dos resultados
serem diversificados de acordo com o estado analisado, existe associação positiva entre gastos
de campanha e voto tanto para a Câmara dos Deputados quanto para o Senado.
Figueiredo Filho (2012) constata que o efeito da receita de campanha sobre os resultados
eleitorais seria maior em distritos eleitorais mais pobres. Porém, a partir de determinado nível
de renda essa implicação volta a ser crescente. No geral, os resultados apresentados indicaram
que tal efeito depende dos níveis de renda de cada estado. Precisamente, essa decorrência tem
maior impacto em níveis extremos de renda, ou seja, muito pobre ou muito rico.
Figueiredo Filho (2012) Peixoto (2010, 2012) e Lemos, Marcelino e Pederiva (2010),
constataram que o efeito da receita de campanha é maior para candidatos desafiantes do que
para os mandatários. Adicionalmente, Lemos, Marcelino e Pederiva (2010) constatam que
enquanto na Câmara dos Deputados os desafiantes conseguem vencer eleições gastando menos
que os mandatários a situação pode não ser a mesma no âmbito do Senado.
Para Cervi et al (2015) a capacidade do candidato arrecadar fundos para a campanha é
uma das principais variáveis para sucesso eleitoral. Os candidatos identificados como políticos
profissionais aparecem como os preferidos dos financiadores. Como político profissional o
autor identifica aqueles que em sua ficha de inscrição como candidato se autodeclararam como
vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Mancuso e
14
Speck (2015) afirmam que a preferência dos financiadores está concentrada em algumas
características do candidato, tal como, gênero, escolaridade, ocupação e situação.
De forma complementar Lemos, Marcelino e Pederiva (2010), afirmam que os
candidatos à reeleição recebem mais doações do que os desafiantes. Esses dados são
confirmados tanto no âmbito da Câmara quanto do Senado, onde as receitas e as despesas são
maiores para os candidatos à reeleição do que para os desafiantes.
De acordo com Gerber (1998), outras variáveis podem afetar a capacidade de um
candidato para angariar fundos de campanha, como por exemplo o nível de riqueza do mesmo.
Para o autor, a relação entre receita e voto é uma via de mão dupla. Mais precisamente, tanto a
receita atrai mais votos quanto a expectativa de votos acaba atraindo mais receita. Sendo assim,
a votação teria efeito não apenas na conquista de votos, mas também na arrecadação de fundos
para campanha. Seja como for, o contexto em que é disputado o pleito também parece importar.
Para Samuels (2002) a prática do “pork barrel” 1 ajudaria os candidatos a angariar
fundos de interesse do setor privado que se beneficiariam de contratos governamentais. Sendo
assim, com mais recursos financeiros os políticos aumentariam potencialmente a sua
probabilidade de reeleição. Em outras palavras, o autor parte do pressuposto de que o "pork
barrel" no Brasil não funciona exatamente como um mecanismo que pode garantir o sucesso
da reeleição dos deputados e sim na sua capacidade de angariar receita.
Como pode ser percebido, muitos trabalhos deixaram claro que a receita de campanha
exerce um efeito positivo e significativo no desempenho eleitoral dos candidatos (Lemos,
Marcelino e Pederiva, 2010; Figueiredo, 2012; Samuels, 2001; Mancuso, 2015), mesmo quando
somente a receita de campanha não explica por si só a força dessa relação (Bolognesi e Cervi,
2011. Cervi, 2010).
Sendo assim, o sucesso eleitoral do candidato está ligado direta ou indiretamente ao
financiamento da sua campanha. No geral, candidatos que conseguem se eleger têm campanhas
mais caras (Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010; figueiredo filho, 2012; Samuels, 2001;
Mancuso, 2015).
Em vista dos argumentos apresentados, todos os trabalhos de alguma forma estão
preocupados em avaliar e explicar como ou por que existe variância no efeito da receita de
campanha sobre o desempenho eleitoral dos candidatos. O que pode ser notado até então, é que
o contexto, os partidos, as regiões geográficas, a situação do candidato (mandatários vs.
Por “pork barrel” entende-se recursos utilizados pelos políticos destinados a interesses locais visando
vantagens, frequentemente votos.
1
15
desafiantes), e a fonte de recursos, são características que alteram a relação entre receita e voto.
Sendo assim, que existe um efeito do financiamento sobre o voto é fato, mas por que existe uma
variação desse efeito é o que procura-se explicar.
1.2 Efeito Jacobson
A maior parte da literatura especializada acredita que o financiamento de campanha é
um item fundamental para o sucesso eleitoral dos candidatos (Figueiredo Filho, 2012; Lemos,
Marcelino e Pederiva, 2010; Peixoto, 2010). Sendo assim, seria fácil chegar à conclusão de que
quanto mais um candidato investe financeiramente em sua campanha maiores seriam as suas
chances de vencer uma eleição. Todavia, acredita-se que o financiamento de campanha tem
maior potencial dentre os candidatos que não estão na disputa pela renovação do mandato. Ao
que parece, a literatura toma por base os estudos realizados por Gary Jacobson para a Câmara
dos deputados dos Estados Unidos.
Em seus estudos, Jacobson (1978), verificou que o efeito da receita de campanha variava
de acordo com status do candidato. Sendo assim, foi constatado que o efeito da receita de
campanha era maior para os desafiantes, que conseguiam melhor desempenho eleitoral em
comparação aos mandatários.
Não sem razão, a diferença do efeito da receita de campanha no desempenho eleitoral
de candidatos desafiantes e mandatários ficou conhecido na literatura como efeito Jacobson.
Para Jacobson (1978) candidatos mandatários já possuem name recognition (nome
reconhecido), portanto, tem retorno eleitoral menor no dinheiro gasto com propaganda. Porém,
Gerber (1998) acredita que o efeito Jacobson se deve a uma imprecisão de estimação. Para ele,
o modelo estimado por Jacobson (1998) ignora uma relação de endogeneidade entre as variáveis
receita e voto. O erro seria mais grosseiro em distritos de baixa magnitude e com número de
competidores reduzido.
Complementarmente, outros estudos confirmaram a tese de Jacobson e mostraram que
apesar dos candidatos à reeleição possuírem uma vantagem inicial, geralmente os candidatos
desafiantes conseguem se eleger com investimento menor (Abromowitz, 1988; Ansolabehere e
Gerber, 1994; Gerber, 2004). A constatação foi realizada inclusive em países que utilizam
sistemas eleitorais diferentes. No Brasil, por exemplo, alguns trabalhos constataram a presença
do efeito Jacobson na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados (Figueiredo Filho, 2012;
Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010; Peixoto, 2010).
16
Entretanto, apesar de alguns trabalhos já terem abordado e constatado o efeito Jacobson
no Brasil (Figueiredo, 2012; Peixoto, 2010, 2012; Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010),
algumas variáveis parecem ter sido deixadas de fora na sua verificação, apresentando assim
uma série de questões sem respostas.
No máximo, os trabalhos se ocuparam de constatar o efeito e quando muito buscar
variáveis contextuais para explicá-lo (Figueiredo Filho, 2012). Claramente, falta um esforço
sistemático para investigar o tema a partir de outros pontos clássicos na literatura. Salvo melhor
juízo, não existem trabalhos que, por exemplo, tente explicar a variação desse efeito a partir do
sistema partidário.
Ainda assim, podemos encontrar na literatura outros trabalhos que levam em
consideração a situação dos candidatos em suas análises. De acordo com Silva Junior et al
(2013) o efeito da receita no desempenho eleitoral dos mandatários varia conforme o tamanho
da máquina partidária. Mancuso e Speck (2015) afirmam que a preferência dos financiadores
está concentrada em algumas características do candidato, e que ser mandatário consistiria em
um desses determinantes.
Apesar dos possíveis problemas na estimação do efeito Jacobson colocado por Gerber
(1998), de acordo com Peixoto o Brasil oferece um cenário adequado para testar esse efeito.
Mais precisamente, aqui o alto número de candidatos e a incerteza sobre os atributos deles na
atração de receita tornam a endogeneidade improvável (PEIXOTO, 2010).
Dessa forma, Figueiredo Filho (2012) Peixoto (2010, 2012) e Lemos, Marcelino e
Pederiva (2010) encontraram indícios do efeito Jacobson no Brasil. Em outras palavras,
verificam que o efeito da receita de campanha é maior para candidatos desafiantes do que para
os mandatários. Complementarmente, Lemos, Marcelino e Pederiva (2010) afirmam que
enquanto na Câmara dos Deputados os desafiantes conseguem melhor desempenho eleitoral
que os mandatários tal efeito não é constatado no âmbito do Senado.
Em virtude dos fatos mencionados, apesar das possíveis lacunas deixadas pela literatura
especializada, acredito que a mesma pode nos dar suporte suficiente para acreditar na realidade
do efeito Jacobson no Brasil.
17
CAPITULO 2
O objetivo desse capítulo é fazer uma breve revisão da literatura sobre os partidos
políticos e sua importância no processo eleitoral. Adicionalmente será feita uma análise dos
principais trabalhos que abordam o tamanho dos partidos políticos a fim de saber como a
literatura vem abordando essa questão.
2.1 A importância dos partidos políticos no processo eleitoral
Partidos políticos são atores essenciais no jogo político das democracias
contemporâneas (Melo e EV, 2014). No Brasil, a importância dos partidos deve-se
principalmente ao fato de ser imprescindível a filiação à um partido para concorrer a qualquer
cargo eletivo.
Para muitos, o caráter personalista do voto retira parte importante do peso dos partidos
na disputa eleitoral (Cain et al, 1987; Manin, 1995; Mainwaring e Torcal, 2005). Normalmente,
argumenta-se que eles perdem a propriedade de funcionar como atalhos informacionais (Telles
et al, 2009). Entretanto, para Peixoto (2010) a filiação partidária diferencia os desempenhos dos
candidatos. Para o autor, os partidos conservam uma função importante na medida em que
concedem recursos organizacionais, tempo de propaganda eleitoral e estratégias de coligação.
Alguns autores já fizeram observações importantes a respeito do financiamento de
campanha e seu efeito no desempenho eleitoral dos partidos políticos. Por exemplo, Figueiredo
Filho (2012) ao verificar a correlação entre receita e voto de acordo com os partidos não
encontrou relevância estatísticas apenas no caso do PCO e PSTU. Porém, para as demais
legendas a correlação entre receita e voto encontra-se significativas, ou seja, quanto maior a
receita maior a quantidade de votos em todos os partidos analisados.
Com uma outra abordagem, mais ligada a questão da ideologia partidária, Cervi (2010)
identificou que as doações de empresas se encaminhavam a todos os tipos de partidos, não
apresentando preferências quanto ao espectro ideológico. Adicionalmente, as doações oriundas
de partidos políticos aparecem com maior intensidade nos partidos mais à esquerda do espectro
ideológico. De forma complementar, o autor deixa claro a importância dos partidos quanto a
arrecadação, gasto de campanha e desempenho dos candidatos.
Bolognesi e Cervi (2011) abordam a questão da importância do tamanho dos partidos e
suas respectivas ideologias no desempenho eleitoral dos candidatos. Na concepção dos autores,
18
apesar do tempo de exposição no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) aumentar
o capital político do candidato, fazendo com que o efeito da receita de campanha seja maior
para aqueles que se expõe mais, essa condição dependeria das características do partido quanto
a sua ideologia e seu tamanho.
Para outros autores, os partidos também aparecem com relevância em outros aspectos.
De acordo com Silva Junior et al (2013) o efeito da receita no desempenho eleitoral dos
mandatários varia conforme o tamanho da máquina partidária. Marcelino (2010) argumenta que
apesar de uma parte da literatura abordar os partidos políticos como frágeis na arena eleitoral
ao mesmo tempo eles podem ser fortes e disciplinados no âmbito do legislativo. Isso seria
explicado pela capacidade dos partidos de fazer a ligação entre o eleitorado e as elites políticas,
além de serem de fundamental importância quanto a seus recursos organizacionais nas
estratégias dos candidatos. Em conjunto, essas observações indicam que o partido importa.
Para além da importância dos partidos políticos, o que nos interessa fundamentalmente
nesse trabalho é o efeito do tamanho dos partidos no processo eleitoral. Sendo assim, ainda é
possível encontrar na literatura especializada alguns trabalhos onde o tamanho dos partidos
foram abordados, e as conclusões dos autores sobre eles são as mais diversificadas possíveis.
Cervi et al (2015) identifica o pertencimento a um partido grande como uma das
características importantes para vencer uma eleição. Complementarmente, para Mancuso e
Speck (2015) apesar dos financiadores terem preferências por grandes partidos de centro e de
direita, os partidos pequenos aparecem como pouco financiados independente do perfil
ideológico. Por sua vez, Kinzo (2004) conclui que os partidos pequenos para maximizar as suas
chances de sucesso eleitoral, buscam se coligar com partidos maiores. Lavareda (1999) acredita
que partidos pequenos trocam seu apoio nas eleições majoritárias em troca de coligações nas
eleições proporcionais.
Como pode ser observado, esse aspecto importante dos partidos parecem ter sido
deixado um pouco de lado pela literatura. Isso pode ser afirmado pela dificuldade de encontrar
trabalhos que abordam essa questão. Em algumas vezes, quando o tamanho dos partidos são
abordados, geralmente, o efeito da variação dos seus respectivos tamanhos está relacionado a
outros aspectos do cenário político. Por exemplo, para Figueiredo e Limongi (1999) tanto os
partidos grandes quanto os pequenos tendem a manter o mesmo nível de disciplina de acordo
com o seu espectro ideológico.
Por sua vez, Nascimento et al (2016) estimaram qual o impacto dos partidos pequenos
sobre resultados eleitorais. Analisando dados sobre as eleições de 1998 a 2014 para o cargo de
19
Deputado Federal os autores concluíram que os partidos pequenos exercem efeito positivo e
significativo sobre a fragmentação partidária.
Um possível problema que pode ser relacionado aos trabalhos que abordam o tamanho
dos partidos é que não existe um consenso de como fazer essa medição. Ainda pode ser somado
a isso o fato de que muitos trabalhos não especificam como chegaram à conclusão de que um
partido é grande ou pequeno.
Na literatura encontramos diversos trabalhos onde o tamanho dos partidos políticos são
citados (Dantas e Praça, 2004 e 2010; Machado, 2005 e 2012; Melo e Ev, 2014; e Nascimento
et al, 2016). Porém, classificar o tamanho dos partidos políticos no Brasil ainda parece ser uma
questão adversa. Segundo Nascimento et al (2016), apesar de muitos trabalhos abordarem os
partidos pequenos, os poucos que os classificam utilizam principalmente o percentual de votos
nacionais para medi-los. Contudo, muitos critérios poderiam ser utilizados para medir os
tamanhos dos partidos políticos. Só para citar alguns desses critérios, Melo e EV (2014)
apontam números de filiados, quantidade de diretórios, quantidade de cargos que possui, setores
da sociedade em que está ligado e sua votação.
Não obstante, mesmo que alguns trabalhos não citem os critérios da classificação dos
tamanhos dos partidos, alguns autores nos dão alguns indicadores de como pode ser mensurado
o seu tamanho. Por exemplo, Nascimento et al (2016) ao estimarem qual o impacto dos partidos
pequenos sobre resultados eleitorais para a Câmara dos Deputados, mensura os tamanhos dos
partidos a partir do seu percentual de votos nas 27 unidades da federação. Adicionalmente,
Cervi et al (2015) ao se referir à partidos grandes identifica-os como os que tem conquistado as
maiores bancadas federais.
Bolognesi e Cervi (2011) para definir os tamanhos dos partidos utilizam quatro
características: número de candidatos/eleitos; número de votos obtidos; total de recursos
arrecadados pelo partido e tempo de HGPE (horário gratuito de propaganda eleitoral).
Rodrigues (1995) ao estudar a fragmentação do sistema partidário nacional, classificou
os tamanhos dos partidos de acordo com o número de cadeiras ocupadas pelos Deputados
Federais de cada partido nas eleições analisadas. Com isso, pela classificação do autor, os
partidos grandes seriam aqueles com 81 ou mais deputados, os partidos médios aqueles com 31
a 80 deputados, os partidos pequenos aqueles com 10 a 30 deputados, e os micropartidos seria
aqueles com menos de 10 deputados.
Dantas e Praça (2004) ao examinar as coligações realizadas pelos partidos pequenos nas
eleições do executivo municipal de 2000, utilizou como critério para essa classificação o
20
percentual de votação para a Câmara dos Deputados e o percentual de participação no fundo
partidário. Foram considerados partidos pequenos aqueles que apresentaram percentual inferior
a 1% em ambos os critérios.
Braga e Bourdoukan (2010) ao analisar o desempenho eleitoral dos partidos brasileiros,
organizam os partidos entre grandes (aqueles com mais de 7% dos votos), médios (aqueles que
obtiveram de 4% a 6% dos votos) e pequenos (os que conseguiram menos de 3,9% dos votos)
baseando-se nas eleições de 2006 para Deputados Federais.
Melo e EV (2014) utilizam como parâmetros a quantidade de votos tanto na esfera
federal quanto na municipal. Segundo os autores, esta é a dimensão que mais caracteriza os
partidos brasileiros. Não obstante, ao analisar o desempenho dos partidos políticos nas eleições
para a Câmera dos Deputados de 1998, 2002, 2006 e 2010, os autores consideram como partidos
pequenos aqueles que obtiveram uma votação menor que 2,5% em pelo menos 2 delas.
Como é possível perceber, diversas formas de medir os tamanhos dos partidos já foram
utilizadas pela literatura especializada no tema. Talvez o único problema que pode ser
observado quanto a esse ponto é que diferentes formas de mensuração nos dão diferentes
resultados. Sendo assim, os mesmos partidos políticos sendo analisados nas mesmas condições
tanto na arena eleitoral quanto na legislatura, por exemplo, podem variar de tamanho segundo
as análises dos diferentes autores. O que pode ser um partido pequeno para uns pode ser
considerado como médio para outros, ou ainda como micro (Nascimento et al, 2016).
Nesse ponto, talvez a principal preocupação consistiria em saber: qual critério escolher
para medir o tamanho dos partidos e porquê?
Para Downs (1999) os partidos políticos e os eleitores se comportariam semelhantes a
empresários e consumidores, atuando racionalmente no sentido de aumentar as suas vantagens.
Nesse sentido, maximizar os votos seriam o objetivo principal dos partidos políticos. Baseado
nessa conclusão, mensurar o tamanho dos partidos através do percentual de votos recebidos por
eles parece-me ser a escolha mais adequada. Isso significa dizer que, os partidos que
apresentarem os maiores percentuais de votação nas eleições analisadas serão considerados
partidos grandes. Consequentemente os partidos que apresentarem percentuais mais baixos
serão considerados partidos pequenos.
Para além disso, pelo que pode ser notado, medir o tamanho dos partidos pelo percentual
de votos parece ser o critério mais escolhido pela literatura. Ainda mais, a Câmera dos
Deputados aparece também como sendo a arena favorita para essa análise. Segundo Nascimento
et al (2016) as eleições para a Câmara dos Deputados tendem a ser as mais importantes para os
21
partidos, pois define a distribuição de recursos do fundo partidário e do horário gratuito de
propaganda eleitoral. Além disso essa arena seria a mais competitiva do sistema político.
Logo, pelos motivos apresentados acima, também adotarei esses critérios para as
análises presentes neste trabalho.
22
CAPITULO 3
METODOLOGIA E RESULTADOS
3.1 Introdução
Este capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia utilizada para a elaboração
desse trabalho e a análise descritiva das variáveis utilizadas para elaboração do mesmo. Nossa
questão de pesquisa é: qual o efeito do tamanho dos partidos no custo dos votos dos candidatos
a deputados federais no Brasil? Portanto, nossa variável dependente é o custo do voto, uma
razão entre o montante da receita e dos votos recebido pelos candidatos. A variável
independente é o tamanho dos partidos. Nossa aposta é que o tamanho dos partidos explicam
parte da variação do custo. Embora o mais plausível seja a existência de uma relação indireta
entre as variáveis, tentamos uma primeira aproximação a partir de modelos mais simples.
Adicionalmente, testamos o efeito do tamanho dos partidos no efeito Jacobson. Em outros
termos, verificamos se a clássica diferença de retorno da receita em votos para mandatários e
desafiante depende do tamanho do partido.
De maneira geral, a literatura contribui para acreditarmos que a receita de campanha do
candidato exerce efeito positivo e significativo no desempenho dos mesmos. Da mesma
maneira, já ficou comprovado que o efeito Jacobson é um fenômeno que também pode ser
observado no Brasil, isto é, o efeito da receita de campanha é maior para os candidatos
desafiantes que para os mandatários. No entanto, este trabalho busca contribuir com a literatura
especializada em financiamento de campanha, ao buscar testar a hipótese de que o tamanho dos
partidos exercem um efeito nessas duas variáveis.
Para tanto, iremos executar um desenho de pesquisa baseado na especificação criteriosa
das variáveis e na análise da diferença entre as médias. Portanto, o desenho envolverá
transformação e reescalonamento de variáveis e análise da variação das mesmas por grupos de
candidatos. O quadro abaixo apresenta mais detalhes:
Quadro 1 – Desenho de Pesquisa
Questão de Pesquisa
Objetivo Geral
Qual o efeito do tamanho dos partidos no custo do voto
dos candidatos?
Analisar o efeito do tamanho dos partidos no custo do
voto dos candidatos.
23
O tamanho dos partidos exerce um efeito negativo no
Hipótese Geral
custo do voto dos candidatos.
Amostragem de 9052 casos presentes nas eleições de
Amostra
2010 e 2014.
Técnicas de Análise
Estatística descritiva e comparação entre médias
(ANOVA, Teste-t).
Fonte: Elaboração do autor.
A amostra escolhida para esse estudo é composta pelos candidatos aos Cargos de
Deputado Federal nas eleições de 2010 e 20142. Isso porque essas observações correspondem
as mais atuais dentro desse universo. Os dados foram coletados a partir do site do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Para estimar o valor total das receitas dos candidatos foram levados
em consideração tanto o financiamento público quanto o de pessoa física e jurídica.
Adicionalmente, os partidos foram classificados como pequenos, médios ou grandes, a
fim de verificar se existe diferença estatisticamente significativa entre a média do custo do voto
dos grupos. O tamanho dos partidos foram compreendidos tomando como base o trabalho de
Nascimento et al (2016) que define os grupos a partir da distância entre os percentuais de votos
que cada partido obteve em cada unidade federativa. O quadro abaixo lista o conjunto de
variáveis que iremos trabalhar.
Quadro 2 – Lista de Variáveis
TIPO
Nomenclatura
VD* Custo do voto
Descrição
Divisão do valor da receita de campanha pela
quantidade de votos.
Tamanho do partido Partidos pequenos, médios e grandes.
Situação do
VI* candidato
Mandatário ou Desafiante.
Mensuração
Discreta
Categórica
Categórica
Fonte: Elaboração do autor. *Variável dependente; ** Variáveis independentes.
2
Foi preferível fazer a análise dos dados conjuntamente entre as eleições de 2010 e 2014 pelo fato dos
resultados obtidos na análise separada das duas eleições mostrarem-se idênticas (ver anexo).
24
3.2 Resultados
A média é uma medida descritiva não viesada (TRIOLA, 2008). Em outros termos, é
uma medida adequada para ser estimada a partir de uma amostra aleatória de dados. No entanto,
esse atributo é mais verdadeiro na medida em que são retirados valores impares (outliers) da
amostra3. A primeira iniciativa para detectar esses valores é examinar a distribuição dos valores
a partir do auxílio de alguns gráficos. Primeiro, examinamos a distribuição da variável depende
a partir de um histograma.
Gráfico 1 – Custo do Voto
Fonte: Elaboração do autor.
Como pode ser observado, a distribuição é positivamente assimétrica, ou seja,
assimétrica à direita. Cerca de 8.000 candidatos apresentarem um valor de custo do voto
relativamente próximos, entre 0 e 500 reais, enquanto uma quantidade menor de candidatos
apresenta um custo do voto mais alto, o que é demonstrado a partir da calda mais longa à direita
do gráfico. Dessa forma, a figura deixa clara a distância da distribuição em relação a normal.
Esse dado é de extrema importância porque tanto o Teste t quanto a Anova assumem o
pressuposto da normalidade.
3
Observações que se diferenciam drasticamente das demais; valores atípicos na distribuição.
25
No entanto, a ilustração nos diz pouco sobre a frequência desses valores mais distantes
devido ao número de candidatos. Por isso, apresentamos os mesmos dados através do boxplot,
com a ideia de visualizar a distribuição e os possíveis valores discrepantes, ou seja, os outliers.
Para deixar a análise mais rica a elaboração do boxplot constitui a comparação gráfica da
variação do custo do voto de acordo com três grupos de partidos: pequenos, médios e grandes4.
Gráfico 2 – Custo do voto por tamanho do partido
Fonte: Elaboração do autor.
A representação dos pontos em cada grupo evidencia que todos apresentam observações
consideradas pontos influentes ou outliers. Claramente, as observações mais distantes
pertencem aos partidos pequenos. Para resumir pode-se dizer que o custo do voto apresenta
valores discrepantes e parece longe da normalidade. Para ter noção do tamanho do ‘problema’,
damos continuidade a análise dos dados a partir do score z5. A utilização do score z é útil para
saber quanto cada custo do voto varia em relação à média em termos desvios padrões. Com o
score z calculado foram verificados casos com mais de 3 desvios padrão acima da média.
4
Classificação elaborada através da mensuração da distância entre os percentuais de votos que cada partido obteve
em cada unidade federativa.
5
Diferença entre valor da observação e a média dividida pelo desvio padrão.
26
Gráfico 3 – Zscore do Custo do voto por tamanho do partido
Fonte: Elaboração do autor.
Claramente, há observações estão acima de três desvio padrões da média. Para nós, esses
casos podem ser considerados outliers (TRIOLA, 2008). Substantivamente, isso significa que
alguns candidatos declaram uma receita alta mas não tiveram um número de votos
correspondentes. Entendemos que uma análise específica desse casos renderia informações
importantes para esclarecer a relação entre receita e voto no Brasil. Porém para finalidade desse
estudo é recomendado a retirada desses casos6. Todavia, esse procedimento resolve apenas a
questão do viés na média, mas não o problema da a-normalidade. Como foi verificado que no
gráfico 1, a distribuição da variável custo do voto apresentou uma assimetria positiva. Por isso,
o próximo passo então consiste em aplicar a função log na base 10 no custo do voto com o
objetivo de transformar os dados que estão positivamente assimétricos em simétricos
possibilitando então fazer testes que pressupõe uma distribuição normal.
Observe o gráfico de histograma depois da transformação da variável custo do voto em
log na base 10:
6
A presença de outliers pode causar anomalia nos resultados da análise, podendo viesar negativamente no
valor da média.
27
Gráfico 4 – Custo do voto em log na base 10
Fonte: Elaboração do autor.
Podemos observar que ao contrário do primeiro histograma onde a distribuição dos
dados apresentaram-se assimétrica, ao transformar a variável custo do voto para log na base 10
do valor original agora temos uma distribuição mais próxima da normal. Agora, verificando a
distribuição dos dados no gráfico de boxplot após a transformação é possível observar de forma
clara medidas resumos da distribuição, isto é, mediana, quartis, máximo, mínimo e pontos
influentes ou outliers.
28
Gráfico 5 – Custo do voto em log na base 10 por tamanho do partido
Fonte: Elaboração do autor.
Para deixar claro, A linha que pode ser observada no meio da caixa representa a mediana
dos valores, ou seja, o valor que é encontrado entre a metade maior e a metade menor da
amostra. No limite inferior da caixa observamos o primeiro quartil que deixa os 25% dos valores
abaixo dele enquanto que no limite superior da caixa pode ser observado o terceiro quartil que
deixa os 25% dos valores acima. Portanto, como podemos observar, a mediana dos três grupos
está numa faixa aproximada de valores. Todos os grupos apresentam pontos influentes e
outliers. Porém, há variação na amplitude e na dispersão de alguns quartis. O grupo mais
disperso é o pequeno e o mais concentrado é o grande isso quando desprezamos os pontos
influentes e outliers.
A tabela a seguir apresenta mais detalhes sobre as informação exibidas nos gráficos.
Tabela 1 – Média do custo do voto em log na base 10 por tamanho dos partidos
Grupo
N
Mínimo
Máximo
Média
Desvio
CV
Assimetria
Curtose
Pequeno
5481
-2,82
3,41
0,7924
0,60648
0,368
-0,288
1,363
Médio
1479
-1,86
2,88
0,8498
0,54327
0,295
-0,308
1,347
Grande
2091
-2,58
2,81
0,8776
0,52904
0,280
-0,780
2,965
Fonte: Elaboração do autor.
29
Claramente, a maior parte dos candidatos pertence a partidos considerados pequenos
(60,5%). A variação também é maior no grupo dos partidos com esse mesmo tamanho (CV =
0,368). Todavia, a assimetria é maior entre os partidos grandes e menor entre os pequenos. Vale
dizer que normalmente parte dessa assimetria deve-se a presença de outliers. Nunca é demais
lembrar que para os procedimento de teste de diferença entre médias executamos esse
procedimento.
Para complementar nossa análise, reproduzimos a classificação dos partidos a partir do
percentual de votos. Aqui nos limitamos a uma reprodução da análise empreendida por
Nascimento et al (2016), ou seja, assumimos que a classificação dos partidos via análise de
cluster é o método mais adequado para formar os grupos7. A tabela abaixo mostra a frequência
de partidos nas unidades federativas.
Tabela 2 – Frequência dos partidos nas unidades federativas (2010 - 1014)
UF
Pequeno
Médio
Grande
UF
Pequeno
Médio
Grande
AC
66,0
28,0
6,0
PA
87,0
--
13,0
AL
64,2
22,6
13,2
PB
66,1
3,6
AM
66,7
28,1
5,3
PE
77,2
30,4
--
22,8
AP
75,0
25,0
PI
85,5
--
14,5
BA
87,0
---
13,0
PR
59,6
29,8
10,5
CE
89,5
--
10,5
RJ
63,8
29,3
6,9
DF
89,8
--
10,2
RN
72,2
--
27,8
ES
79,6
--
20,4
RO
69,8
22,6
7,5
GO
72,9
25,0
2,1
RR
77,4
1,9
MA
70,9
27,3
1,8
RS
81,8
20,8
--
18,2
83,9
--
16,1
69,1
--
30,9
81,4
--
18,6
76,5
--
23,5
MG
MS
MT
67,8
88,9
25,4
--
76,1
--
6,8
11,1
23,9
SC
SE
SP
TO
Fonte: Elaboração do autor.
No período de 2010 a 2014 observamos maior frequência de partidos pequenos em
relação aos partidos médios e grandes em todos os casos analisados. Dentre as unidades
federativas que possuem 3 grupos de partidos, Roraima é o que apresenta a maior incidência de
partidos pequenos com 77,4 %. Paraíba aparece com a maior incidência de partidos médios
7
Para Hair et al, a “análise de conglomerados agrupa indivíduos ou objetos em clusters de modo que objetos em
um mesmo cluster são mais parecidos entre si do que em relação a outros clusters” (HAIR et al, 2006, p. 555).
30
com 30,4% e Alagoas com a maior incidência de partidos grandes com 13,2%. Já nas unidades
da Federação que apresenta apenas dois grupos de partidos, a maior incidência de partidos
pequenos é encontrada no Distrito Federal com 89,8% enquanto que a maior incidência de
partidos grandes é encontrada em Sergipe com 30,9%.
Como visto, os grupos são criados levando-se em consideração o percentual de votos
que os partidos recebem em cada Estado. Precisamente, os partidos foram agrupados em até
três faixas diferentes: pequenos, médios e grandes8. A tabela abaixo apresenta as medidas
descritivas dos grupos formados.
Tabela 3 – Medidas descritivas dos grupos
Ano
Tamanho dos partidos a partir
de uma análise de cluster (two
step).
2010 Pequeno
Médio
Grande
2014 Pequeno
Médio
Grande
N
Mínimo Máximo Média
Desvio
Padrão
CV
484
484
77
77
106
106
631
631
81
81
92
92
0,01
9,88
1,2091 1,68977
140
3,41
18,59
7,3366 3,28200
44,74
5,85
33,93
14,6225 6,13499
41,90
0,01
9,51
1,4463 1,77940
122,90
3,37
16,42
6,9802 2,76756
39,54
5,23
31,53
13,2836 5,85893
44,05
Fonte: Elaboração do autor
Na tabela acima podemos verificar o número de partidos pequenos, médios e grandes
no período de 2010 a 2014. Em 2010, o coeficiente de variação entre os partidos pequenos é de
140% sendo maior que os dos partidos médios (44,74%) e grandes (41,90%). Em outras
palavras, significa dizer que os partidos pertencentes ao grupo “pequenos” possuem maior
variabilidade no porcentual de votação do que os outros dois grupos. Da mesma forma, em 2014
os partidos pequenos obtiveram maior coeficiente de variação (122,90%) seguidos dos partidos
médios (39,54%) e grandes (44,05%).
8
De acordo com Nascimento e et al (2016) algumas unidades da federação registram partidos pertencentes apenas
a dois grupos.
31
Como o objetivo é saber qual o efeito do tamanho dos partidos no custo do voto dos
candidatos ao cargo de Deputado Federal nas eleições de 2010 e 2014, um método estatístico
adequado para essa mensuração é a partir da análise de variância (ANOVA). Esse método terá
como finalidade verificar se existe diferença estatisticamente significativas entre as médias do
custo do voto entre os três grupos de partidos. A comparação em questão será realizada entre
as médias dos partidos pequenos, médios e grades. As tabelas abaixo apresentam os resultados.
Tabela 4 – Diferença entre as médias do custo do voto log 10
Soma dos
df
Quadrado Médio
Z
Sig.
18,480
0,000
Quadrados
Entre Grupos
12,405
2
6,203
Nos grupos
3036,812
9048
0,336
Total
3049,218
9050
Fonte: Elaboração do autor.
Tabela 5 – Analise descritiva
Tamanho
Média
N
Pequeno
0,7924
5481
0,60648
Médio
0,8498
1479
0,54327
Grande
0,8776
2091
0,52904
Total
0,8215
9051
0,58046
do partido
Desvio
Fonte: Elaboração do autor.
De acordo com a análise de variância (ANOVA) há uma diferença estatisticamente
significativa entre as médias do custo do voto dos três grupos analisados. Em outras palavras,
o tamanho dos partidos parece exercer um efeito no custo do voto dos candidatos. Além disso,
a partir da tabela 5 é possível verificar que o valor da média do custo do voto (log) é maior para
os partidos considerados grandes (0,8776) e menor para os pequenos (0,7924). Todavia, essa
análise não revela onde está exatamente a diferença significativa entre as médias. Em outro
termos, não diz qual a comparação que pesa mais significativamente.
Portanto, para ilustrar melhor os resultados, a comparação entre as médias dos grupos
será apresentada em gráficos de barra de erro, com o intuito de indicar o erro estimado na
medida, assim indicando a incerteza implícita no teste diferença.
32
Gráfico 6 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos
Fonte: Elaboração do autor.
Através da análise do gráfico acima é possível perceber que existe diferença
estatisticamente significativa entre as médias do custo do voto dos partidos pequenos e médios
e pequenos e grandes. Porém, a estimativa (barras) das médias do custo do voto (log) dos
partidos médios e grandes apresentam zonas de interseção. Em outras palavras, há dúvidas se
existe diferença estatisticamente significativas entre as médias do custo do voto dos partidos
médios e grandes.
Com o intuito de tornar mais clara a análise dos dados, realizamos a comparação entre
as médias do custo do voto a partir do Test-t Student, comparando pares de grupos:
33
Tabela 6 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e médios
Tamanho
N
Média
Erro Desvio
do partido
Custo do voto log10
Erro padrão da
média
Pequeno
5481
0,7924
0,60648
0,00819
Médio
1479
0,8498
0,54327
0,01413
Fonte: Elaboração do autor. (t (6958) = -3,302; p < 0,05).
O Teste-t Student demostra a significância estatística entre as médias do custo do voto
dos partidos pequenos e médios. Mais precisamente, demonstra ainda que os candidatos
pertencentes a partidos médios possuem em média o custo do voto mais elevado do que os
candidatos pertencentes a partidos pequenos.
Tabela 7 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e
grandes
Tamanho do
N
Média
Erro Desvio
partido
Custol do voto log10
Erro padrão da
média
Pequeno
5481
0,7924
0,60648
0,00819
Grande
2091
0,8776
0,52904
0,01157
Fonte: Elaboração do autor. (t (7570) = -5,654; p < 0,05).
Claramente, o Teste-t Student apontou uma diferença estatisticamente significativa
entre as médias do custo do voto dos partidos pequenos e grandes. De modo geral, em média
os candidatos pertencentes a partidos grandes possuem o custo do voto maior do que os
candidatos pertencentes a partidos pequenos.
Tabela 8 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos médios e grandes
Tamanho do
N
Média
Erro Desvio
partido
Custo do voto log10
Erro padrão da
média
Médio
1479
0,8498
0,54327
0,01413
Grande
2091
0,8776
0,52904
0,01157
Fonte: Elaboração do autor. (t (3568) = -1,526; p > 0,05).
Finalmente, o Teste-t Student mostrou não existir diferença estatisticamente
significativa entre as médias do custo do voto dos partidos médios e grandes. Em outras
palavras, o resultado observado na tabela 8 mostrou que apesar de existir diferença entre as
34
médias, levemente maior para os partidos grandes, em termos estatísticos essa diferença é
insignificante.
Do ponto de vista metodológico, os resultados contraria a hipótese apresentada no
trabalho. Apostamos que o efeito do tamanho partido seria negativa, mas não exatamente o que
ocorre. Há uma relação positiva, partidos grandes apresentam médias maiores sendo o contrário
verdadeiro. Na média, candidatos pertencentes a partidos maiores têm um votos mais caros.
Substantivamente, esse resultado aponta para o fato dos candidatos de partidos pequenos terem
uma relação receita-voto diferenciada.
3.3 Variação do Efeito Jacobson
Além do tamanho dos partidos, decidimos agregar a análise a classifica clivagem entre
mandatários e desafiantes. Portanto, o objetivo dessa sessão consiste em testar a hipótese nula
de que o Efeito Jacobson independe do tamanho dos partidos. A aposta é que o Efeito Jacobson
continua a ocorrer mesmo quando é levado em consideração o tamanho dos partidos dos
candidatos.
De início, observamos os dados referentes ao custo do voto dos candidatos de acordo
com sua situação, ou seja, mandatários e desafiantes, independentemente do tamanho dos
partidos.
Gráfico 7 - Custo do voto de acordo com a situação do candidato
Fonte: Elaboração do autor.
35
A partir da observação do gráfico 7, constatamos mais uma vez a presença de
observações influente e outliers, ou seja, valores discrepantes no custo do voto (log). Tal fator
pode ser verificado mais precisamente a partir do uso do recurso de score z. Portanto, há a
necessidade de retirar algumas observações para não interferir nos resultados, o gráfico a seguir
apresenta mais detalhes.
Gráfico 8 – Zscore do custo do voto de acordo com a situação do candidato
Fonte: Elaboração do autor.
Claramente, o grupo dos desafiantes é o único que apresenta outliers e também o mais
disperso. Mais que isso, 50% dos desafiantes tem custo do voto (log) abaixo de 75% dos
mandatários. Para dar continuidade as análises, o próximo passo consiste na realização do
Teste-t Student para a comparação entre as médias dos candidatos mandatários e desafiantes
objetivando a verificação do efeito Jacobson no Brasil nas eleições para a Câmera dos
Deputados.
36
Tabela 9 – Comparação entre médias do custo do voto entre mandatários e desafiantes
Situação do candidato
N
Média
Erro Desvio
Erro padrão da
média
Custo do
Desafiante
8423
0,8193
0,55063
0,00600
voto log10
Mandatário
543
1,0119
0,37291
0,01600
Fonte: Elaboração do autor. (t (8964) = -8,031; p < 0,05).
Os resultados acima mostram haver diferença estatisticamente significativa entre as
médias do custo do voto dos candidatos mandatários e desafiantes. Como esperado, o efeito
Jacobson foi identificado como uma realidade nas eleições para Deputado Federal. Em outras
palavras, em média o custo do voto dos mandatários é maior que o custo do votos dos
desafiantes. Enquanto a média do custo do voto dos mandatários aparece como 1,0119 as dos
desafiantes aparece como 0,8193, ou seja, uma diferença de 81%.
Com a finalidade de observar se existe variância no Efeito Jacobson, o próximo passo a
ser realizado consiste na comparação entre as médias do custo do voto dos candidatos de acordo
com sua situação, ou seja, mandatários e desafiantes dentro de um mesmo grupo de partidos,
isto é, pequenos, médios ou grandes.
Tabela 10 – Comparação entre médias do custo do voto de mandatários e desafiantes de
acordo com o tamanho dos partidos
Tamanho do partido
Situação do
N
Média
Erro Desvio
candidato
Erro
padrão
da média
Pequeno
Médio
Grande
Custo do
Desafiante
5297
0,7980
0,57132
0,00785
voto log10
Mandatário
129
0,9599
0,39286
0,03459
Custo do
Desafiante
1331
0,8260
0,51740
0,01418
voto log10
Mandatário
137
1,0826
0,42934
0,03668
Custo do
Desafiante
1795
0,8771
0,50658
0,01196
voto log10
Mandatário
277
1,0011
0,32682
0,01964
Fonte: Elaboração do autor. Partidos pequenos: (t (5424) = -3,199; p < 0,05). Partidos médios: (t (1466) = -5,610;
p < 0,05). Partidos grandes: (t (2070) = -3,948; p < 0,05).
Como pode ser observado na tabela acima, mais uma vez o efeito Jacobson foi
identificado nas eleições para o cargo de Deputado Federal. Além de ser observada uma
diferença estatisticamente significativa entre as médias do custo do voto dos candidatos
mandatários e desafiantes em todos os extratos de partidos, o resultado da análise nos mostra
37
que a média o custo do voto dos mandatários é sempre maior do que o custo do voto dos
desafiantes.
Com a finalidade de apresentar os intervalos de confiança, os gráficos de barra de erro
a seguir ilustram os resultados obtidos na tabela 10.
Gráfico 9 – Desafiantes e mandatários de partidos pequenos
Fonte: Elaboração do autor. (t (5424) = -3,199; p < 0,05).
A maior média expressa no gráfico 9 corresponde ao grupo de candidatos mandatários.
Para eles, a média do custo do voto (log) é de 0,9599. Além disso, esse tipo de candidato
apresenta uma variação maior. Em contrapartida, o grupo de desafiantes apresenta uma variação
e uma a média do custo do voto menor 0,7980, ou seja, uma diferença de 83,0%. O gráfico
seguinte analisa essa diferença em partidos considerados médios.
38
Gráfico 10 – Desafiantes e mandatários de partidos médios
Fonte: Elaboração do autor. (t (1466) = -5,610; p < 0,05)
Novamente a maior média e a maior variação é registrada no grupo dos mandatários.
Precisamente, a média nesse grupo é de 1,0826 enquanto que dentre os desafiante ela fica em
0,8260, ou seja, uma diferença de 76%. Por fim, o gráfico 11 ilustra a diferença entre a média
do custo do voto (log) de desafiantes e de mandatários entre os partidos considerados grandes.
39
Gráfico 11 – Desafiantes e mandatários de partidos grandes
Fonte: Elaboração do autor. (t (2070) = -3,948; p < 0,05).
O resultado se repete, os mandatários tem maior média e maior variação. Precisamente,
a média do custo do voto (log) é de 1,00. Em contrapartida, a média do custo do voto dos
desafiantes é de 0,8771.
Em resumo, a análise sobre o efeito Jacobson apresenta alguns resultados: 1) os
mandatários apresentam um custo do voto significativamente maior; 2) A diferença entre as
médias é estatisticamente significativa independentemente do tamanho do partidos e 3) a
variação da estimação da média do custo do voto é sempre maior dentre os mandatários. No
conjunto, os resultados vão na direção da aposta feita anteriormente, o Efeito Jacobson continua
a ocorrer mesmo quando é levado em consideração o tamanho dos partidos dos candidatos.
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados da pesquisa há uma diferença estatisticamente significativa
entre as médias do custo do voto dos três grupos analisados, ou seja, entre os partidos pequenos,
médios e grandes. Em outras palavras, o tamanho dos partidos parece exercer um efeito no
custo do voto dos candidatos. Além disso, foi possível verificar que o valor da média do custo
do voto é maior para os partidos considerados grandes e menor para os pequenos.
Complementarmente, ainda foi possível perceber que existe diferença estatisticamente
significativa entre as médias do custo do voto dos partidos pequenos e médios e pequenos e
grandes. Porém, há dúvidas se existe diferença estatisticamente significativas entre as médias
do custo do voto dos partidos médios e grandes.
Adicionalmente, os resultados demonstram que os candidatos pertencentes a partidos
médios possuem em média o custo do voto mais elevado do que os candidatos pertencentes a
partidos pequenos. Mais ainda, em média os candidatos pertencentes a partidos grandes
possuem o custo do voto maior do que os candidatos pertencentes a partidos pequenos.
Entretanto, quando levado em consideração a comparação entre partidos médios e grandes
apesar de existir diferença entre as médias, ela é levemente maior para os partidos grandes, em
termos estatísticos essa diferença é insignificante.
Quando se trata de candidatos mandatários e desafiantes, os resultados mostraram haver
diferença estatisticamente significativa entre as médias do custo do voto dos dois grupos
analisados. Como esperado, o efeito Jacobson foi identificado como uma realidade nas eleições
para Deputado Federal. Em outras palavras, em média o custo do voto dos mandatários é maior
que o custo do votos dos desafiantes. Ainda foi possível encontrar indícios do efeito Jacobson
em todos os extratos de partidos, nos mostrando que a média do custo do voto dos mandatários
é sempre maior do que o custo do voto dos desafiantes. Em outras palavras, o efeito Jacobson
continua a ocorrer mesmo quando é levado em consideração o tamanho dos partidos dos
candidatos.
Do ponto de vista metodológico, os resultados contrariam a hipótese apresentada no
trabalho. Apostamos que o efeito do tamanho do partido seria negativa, mas não é exatamente
o que ocorre. Quanto a realidade do efeito Jacobson na Câmera dos Deputados no Brasil já era
algo esperado, pois o suporte teórico apresentado na literatura já apontava para essa direção
(Figueiredo Filho, 2012; Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010; Peixoto, 2010). Contudo, talvez
41
a grande contribuição nesse trabalho esteja no fato do efeito ter se mostrado regular
independente do tamanho dos partidos analisados.
42
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45
ANEXOS
Tabela 11 – Diferença entre as médias do custo do voto log 10 (2010 - 2014)
Ano da Eleição
2010
2014
Soma dos Quadrados
df
Quadrado Médio
Z
Sig.
Entre Grupos
8,341
2
4,170
14,540
,000
Nos grupos
1153,866
4023
,287
Total
1162,207
4025
Entre Grupos
10,277
2
5,139
17,506
,000
Nos grupos
1449,159
4937
,294
Total
1459,436
4939
Fonte: Elaboração do autor.
Gráfico 12 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos
Fonte: Elaboração do autor.
46
Gráfico 13 – Comparação entre médias de acordo com o tamanho dos partidos
Fonte: Elaboração do autor.
Tabela 12 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e
médios
Ano da Eleição
Tamanho do
N
Média
Erro Desvio
partido
2010
2014
Custo do voto log10
Custo do voto log10
Erro padrão da
média
Pequeno
2160
,7320
,56619
,01218
Médio
759
,7857
,52899
,01920
Pequeno
3266
,8481
,56495
,00989
Médio
709
,9188
,49100
,01844
Fonte: Elaboração do autor. 2010 = (t (2917) = -2,284; p < 0,05). 2014 = (t (3973) = -3,086; p < 0,05).
Tabela 13 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos pequenos e
grandes
Ano da Eleição
Tamanho do
N
Média
Erro Desvio
partido
2010
2014
Custo do voto log10
Custo do votolog10
Erro padrão da
média
Pequeno
2187
,7222
,61057
,01306
Grande
1118
,8185
,52527
,01571
Pequeno
3294
,8390
,59931
,01044
Grande
973
,9455
,52545
,01685
Fonte: Elaboração do autor. 2010 = (t (3303) = -4,492; p < 0,05). 2014 = (t (4265) = -5,002; p < 0,05).
47
Tabela 14 – Comparação entre médias do custo do voto entre partidos médios e grandes
Ano da Eleição
Tamanho do
N
Média
Erro Desvio
partido
2010
2014
Erro padrão da
média
Custo do voto
Médio
764
,7820
,55325
,02002
log10
Grande
1118
,8185
,52527
,01571
Custo do Voto
Médio
715
,9223
,52314
,01956
log10
Grande
973
,9455
,52545
,01685
Fonte: Elaboração do autor. 2010 = (t (1880) = -1,447; p > 0,05). 2014 = (t (1686) = -0,898; p > 0,05).
48
