RELATÓRIO DE ENSINO

DISCENTE: FRANCISCO ALBERTO DE ARAÚJO COSTA JÚNIOR; ORIENTADORA: EVELINA ANTUNES F. DE OLIVEIRA

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                    UNIVERSIDADE FEDERAL DE
ALAGOAS-UFAL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS ICS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
SOCIAIS

RELATÓRIO DE ENSINO

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

MACEIÓ, AL
Fevereiro, 2018

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE
ALAGOAS - UFAL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS ICS
CURSO DE
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
SOCIAIS

FRANCISCO ALBERTO DE ARAÚJO COSTA JÚNIOR
RELATÓRIO DE ENSINO
Relatório de Ensino
apresentado como prérequisito para a conclusão do
Curso de Licenciatura em
Ciências Sociais do Instituto
de Ciências Sociais – UFAL,
sob a orientação da Prof.
Evelina Antunes F. de
Oliveira. O relatório é o
produto de todas as ações de
estágio que foram realizadas
durante a vigência do curso
(Estágios Supervisionados 1,
2, 3 e 4)

Maceió, AL
Fevereiro, 2018
2

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Evelina Antunes F. de Oliveira
(Orientadora)
_______________________________________
Cristiano das Neves Bodart
(Avaliador)
_________________________________________
Welkson Pires
(Avaliador)

Maceió, AL
Fevereiro, 2018

3

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS....................................................................05
INTRODUÇÃO..........................................................................06
METODOLOGIA........................................................................07
APRESENTAÇÃO DAS ESCOLAS...........................................09
O
ENSINO
DE
SOCIOLOGIA:
HISTÓRIA
OBSERVAÇÃO............................................................................10

E

O COTIDIANO DAS ESCOLAS..................................................16
CARACTERIZAÇÃO DAS TURMAS.........................................17
OBSERVAÇÃO EM SALA DO USO DE TEMAS E CONCEITOS
ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLOGICOS PELOS PROFESSORES E
ALUNOS..........................................................................................18
A EDUCAÇÃO SEGUNDO OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA:
DURKHEIM, WEBER E MARX
..........................................................................................................21
O CONTEÚDO DA REGÊNCIA...................................................22
7.1.Observações.............................................................................22
7.1.1. Estágios 1 e 2.......................................................................22
7.1.2. Estágio 3...............................................................................23
7.1.3. Estágio 4...............................................................................24
AUTOAVALIAÇÃO......................................................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................31
REFERÊNCIAS.............................................................................32
ANEXOS........................................................................................33

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a meus pais, por apostarem em mim
quando recomecei essa nova jornada em busca de uma formação mais
completa e de um outro olhar sobre a educação e a pedagogia, além de já
terem percebido desde antes meu gosto pela sala de aula. Agradeço a
professora Evelina pela orientação e correções necessárias à qualidade do
trabalho,

assim

como

a

todos

os

professores

em

geral

pelo

acompanhamento de minha estadia na licenciatura.
Agradeço também aos colegas de trabalho em Ciências Sociais
que, em diversos encontros e reencontros, tive a oportunidade de ter
trocado ideias importantes sobre nossas experiências na licenciatura. Ao
mesmo tempo pude aprender bastante nesses anos, aumentando meu
conhecimento e me apropriando dos instrumentos necessários não só para
ensinar, mas para compreender a educação em sua totalidade, a partir de
suas contradições, ao contrário dos que em tempos difíceis pregam um
ensino “neutro”. É a partir da compreensão dessas contradições que é
possível compreender a atividade do professor de ciências humanas,
especialmente de Sociologia, como uma luta constante pelo espaço da
disciplina.
Por último, mas não menos importante, agradeço a todos os
movimentos sociais em defesa da educação pública. Pois compreendo a
motivação deste trabalho não apenas como individual, mas coletiva, pois
não deposita ilusões em um ensino afastado da sociedade real e das
contradições sociais em que vivemos em tempos onde precisamos dizer o
óbvio enquanto professores.

5

INTRODUÇÃO

Este relatório tem por objetivo registrar e analisar minhas atividades
durante as quatro disciplinas de Estágio Supervisionado no curso de
Licenciatura em Ciências Sociais (ICS/UFAL).
Há cerca de 5 anos, entrei pela primeira vez em uma sala de aula
como professor de Filosofia e Sociologia na rede particular de ensino em
Maceió, já concluindo minha graduação em bacharelado Ciências Sociais,
em 2013. Neste trabalho, consegui apreender muitos aspectos importantes
do trabalho do professor nas ciências humanas em geral, e a especificidade
de quem as ministra, especialmente sendo professor de uma disciplina que
assim como a Filosofia, ainda se encontra em estágio de consolidação tanto
no aprofundamento dos debates curriculares quanto na visão que setores
amplos da sociedade possuem da disciplina, muitas vezes no sentido da
desvalorização: trata-se do ensino de Sociologia.
Ser professor, como aponta Paulo Freire ( 1996;2001), é estar a todo
instante fazendo uma autocrítica de seu método avaliativo e de interação
com os alunos, a fim de otimizar o aprendizado. Isso pressupõe não só
fazer com que os alunos aprendam os conteúdos ministrados pela disciplina
em questão, no caso, a disciplina de Sociologia. Também envolve
compreender na prática a “mediação pedagógica” tão falada entre os
estudantes e professores dos curso de licenciatura. No campo da
Sociologia, isso envolve tornar sempre que possível a aula dialogável com
a vivência do aluno, contextualizando os conceitos que são vistos na
graduação (problematização, estranhamento, etnocentrismo, alteridade,
etc.) para a vida cotidiana dos alunos.

6

METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada neste relatório possui caráter descritivo
e diz respeito às minhas experiências nos Estágios 1, 2, 3 e 4, tanto de
observação e experiência com as turmas das duas escolas onde estagiei, a
Escola Estadual Aurelina Palmeira de Melo, localizada no bairro do
Vergel, onde fiz os dois primeiros estágios à noite, e a Escola Estadual Dr.
José Maria Correia das Neves, onde fiz o estágio 3 no período noturno e o
estágio 4 no período da manhã. Observei particularmente a participação
dos alunos e das alunas em sala de aula, assim como os procedimentos
adotados pelos professores. Na parte que trata dos instrumentos
sociológicos e antropológicos para o professor e alunos em especial irei
apresentar um pouco do que funcionou e do que não funcionou e do que eu
aprendi para contribuir com minha própria prática docente.
Participar nos estágios e se debruçar permanentemente sobre eles
nos aportes teóricos da disciplina e na prática docente é observar a pratica
docente de forma contínua, se partirmos desse ponto. Ou seja, os aportes
do curso e as discussões que vemos com frequência sobre as teorias
sociológicas clássicas e contemporâneas são importantes mas não o
suficiente para um trabalho qualificado ao nível de um curso de
licenciatura. Não pretendo dizer que as disciplinas a serem ministradas no
decorrer do curso não são suficientes para a formação de professores de
Sociologia, pelo contrário. As disciplinas, tanto específicas do curso como
as disciplinas pedagógicas nos fornecem coordenadas imprescindíveis, mas
pretendo enfatizar o relatório como cumprindo um papel fundamental de
deixar um registro sobre a prática docente e sua evolução por meio dos
estágios.
7

Percorri diversos caminhos a depender das atribuições de cada
estágio. Nos estágios 1 e 2 a tarefa foi observar as aulas e analisar o Livro
Didático de Sociologia adotado em cada escola. Nos estágios 3 e 4 parti
para a observação e regência. Dessa maneira pude verificar as diferenças
não só entre as turmas, mas entre os professores que ministravam a
disciplina e sua condução da aula, assim como a organização das escolas
aqui descritas.

8

APRESENTAÇÃO DAS ESCOLAS

Como duas escolas da rede estadual de ensino elas possuem várias
características comuns, mas também apresentam suas diferenças.
Apresentamos a seguir alguns indicadores levantados durante os Estágios e
apontamos as lacunas quanto às informações que poderiam ser também
importantes.
Quadro 1-Matrículas, professores e equipamentos das escolas observadas.
E

E.

Aurelina E.E.

Dr.

José

Palmeira

Correia das Neves

Nº de matrículas

-

-

Nº de professores efetivos

31

-

Nº de professores temporários

30

-

Laboratório de Informática

Sim

Sim

Biblioteca

Não

Não

Data-show

Sim

Sim

Televisão

Sim

Sim

Quadra de esporte

Não

Sim

(auditório, Sim

Sim

Área

de

convivência

Maria

pracinha, jardim).
Fonte: dados coletados pelo autor em 2016 e 2017.As informações ausentes não me foram fornecidas pela
direção das escolas e não me foram cobradas durante os Estágios.

Ambas as escolas se localizam em bairros adjacentes à periferia, em
regiões próximas de classe média baixa. Na época, a primeira escola em
questão não tinha prédios em um bom estado, visto que ela suspendeu as
aulas durante uma semana para fazer algumas reformas no prédio. A rua
em que a escola se localizava é muito deserta durante à noite, sendo
necessário que alguns professores que não morassem na área fossem de
9

carona ou algum outro meio de transporte, pela inexistência de um ponto de
ônibus perto da escola. O uso da biblioteca não era muito incorporado ao
cotidiano das aulas. Razão pela qual nos dois primeiros estágios eu não
cheguei a ter contato com outros meios de exposição do conhecimento em
Sociologia, como o data-show. Apesar de ter uma administração que tenta
o possível para manter a instituição é uma escola com muitos alunos à noite
para a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos-EJA.
Os problemas do sistema educacional público no Brasil, onde se
destaca a desvalorização do professor e a falta de financiamento para a
aquisição e a manutenção de equipamentos e prédios são decisivos para
compreender aspectos mais localizados da questão, e quando tratamos das
aulas de Sociologia esses problemas se agravam, como a falta de
equipamentos audiovisuais. Soma-se a isto a especificidade da Sociologia
que é o fato da disciplina ainda estar em processo de consolidação tanto
institucional quanto social, o que quer dizer pouca visibilidade no currículo
escolar e pequeno reconhecimento social.
Vale notar que ambas as escolas refletem aspectos socioeconômicos
da realidade dos alunos. Essas escolas costumam ter uma dinâmica própria
e uma diferença marcante com as instituições privadas. Várias turmas de
uma mesma série em diferentes faixas etárias, mas com um perfil social
muito parecido. No EJA estão os alunos mais velhos, como iremos ver
adiante ao descrever o perfil dos alunos mais detalhadamente. No ensino
médio regular são mais jovens, e sua dinâmica de aprendizado varia no
contexto de cada turma.
Os alunos também refletem muito do meio em que vivem. Muitos
são moradores de bairros de periferia nos dois turnos em que funciona o
ensino médio (manhã no caso do ensino médio regular, que é o período
aqui estudado, e no período noturno, onde funciona o EJA nas escolas).
Também é possível perceber uma juventude mais atenta aos debates sobre
10

direito às identidades, sejam elas feminista, negra ou LGBT. Isso vale tanto
para o turno da noite quanto o turno da manhã, embora neste último isso se
expresse em maior grau.

11

O ENSINO DE SOCIOLOGIA: HISTÓRIA E OBSERVAÇÃO

O que significa pensar o trabalho do professor de Sociologia nos
dias atuais? Por que é significativa a inclusão obrigatória da disciplina
através da lei em 2008 ( lei 11.684) na educação básica e como ela se
reflete nas escolas publicas e privadas?
É preciso responder a essa pergunta através de dois percursos: um
do ponto de vista histórico, e outro, do ponto de vista da institucionalidade
escolar.
O primeiro se traduz no percurso histórico da disciplina Sociologia
no ensino médio. A Sociologia foi uma disciplina marcada por idas e
vindas, pela presença e pela ausência de sua obrigatoriedade no currículo
escolar, a depender da situação concreta no quesito social e político, que
variou conforme o momento histórico, estando ausente como componente
curricular obrigatório entre 1940 e 2008.

Nas primeiras reformas

educacionais importantes neste grau de ensino, desde o final do século
XIX,

ocorreu o predomínio de intelectualidade brasileira pré e pós-

Proclamação da República que bebeu da fonte positivista, o que constituiu
fator essencial nas políticas educacionais, muitas vezes conduzida por uma
elite intelectual de formação européia.
Especialmente em 1870, como afirma Cigales (2014), Rui Barbosa,
em seus projetos para uma reforma do ensino, sugere a inclusão de
“Elementos de Sociologia e Direito Constitucional” e “Instrução moral e
cívica”, disciplinas com elementos ligados ao pensamento social, nos dois
níveis de ensino básico, e a disciplina de Sociologia de fato para as
faculdades de Direito.
Com as reformas Rocha Vaz (1925), Francisco Campos (1931) e
Capanema

(1942),

a

disciplina
12

passou

por

continuidades

e

descontinuidades em relação a inclusão no currículo, de modo obrigatório.
Durante um bom tempo ficou restrita aos cursos superiores e secundários
de formação de professores em 1946, em uma situação de possibilidades
objetivas da institucionalização da Sociologia não só enquanto disciplina,
mas enquanto um saber autônomo das ciências jurídicas e sociais até então
existentes e ligadas ao Direito. A Sociologia voltará a ser debatida e
organizada no cenário educacional brasileiro a partir de 1996, cujo
presidente de então, Fernando Henrique Cardoso, vetou a obrigatoriedade
da disciplina, chegando a 2008, quando se institui a obrigatoriedade da
Sociologia na educação básica. (CIGALES, 2014)

A sociologia enquanto disciplina escolar no Brasil esteve caracterizada
pela ausência e presença no currículo educacional do país. Isso se deve
ao fato das disciplinas estarem orientadas por meio da legislação, sendo
esta que determinaria quais disciplinas deveriam constar na grade
curricular de cada modalidade de ensino. No entanto, esta trajetória foi
heterogênea, diferenciando-se em dois sentidos, o primeiro refere-se ao
poder dos Estados, que em certos momentos tiveram a oportunidade de
incluírem disciplinas as quais acreditavam necessárias. (CIGALES, 2014,
p.62)

O segundo caminho é através do estudo histórico das experiências da
disciplina, procurando compreender o quanto a Sociologia carece de
consolidação nos debates curriculares e na própria visão que os alunos e
professores possuem acerca da disciplina. No contato com alguns
professores, através de conversas informais em corredores da escola, pude
problematizar este olhar.
No ensino de Sociologia os desafios são inúmeros: desde os mais
gerais de todo professor no Brasil, que é dar aula para turmas lotadas, com
cerca de 35 a 40 alunos, ou mais, em uma aula por semana de cerca de 50
minutos (40 minutos no caso do EJA, seja ele em formato de supletivo ou
em períodos), e as dúvidas dos alunos que sempre se questionam: “para que
13

Sociologia?”, “ o que isso vai influenciar de maneira prática em minha
vida”? O mesmo ocorre com a Filosofia, contudo, aqui tratamos da
Sociologia.
Durante os estágios convivi com diferentes professores que estavam
ministrando a disciplina. Destaque importante foi para a formação dos
professores dos 4 estágios. À exceção de uma professora, que era formada
em Ciências Sociais, com mestrado em Antropologia, as outras três eram
graduadas em Pedagogia. Grande parte tinha pós-graduação em áreas afins
dentro do campo da pedagogia e magistério e todas trabalhavam em regime
de contratação temporária (monitoria).
A primeira professora com que trabalhei os estágios 1 e 2 estava
dando aula de Sociologia pela primeira vez para turmas de EJA da Escola
Aurelina Palmeira de Melo. Tivemos uma convivência tranquila e
conseguimos formar uma boa equipe principalmente por ela estar
aprendendo alguns conceitos que os mais familiarizados com a disciplina,
independente da formação, já tem um certo conhecimento. Na prática, eu
observava as aulas e ensinava a ela em muitos casos, por fora da sala,
sugerindo outro modo para a condução da aula, pois a mesma não se sentia
estimulada a dar aula para ensino médio regular ou EJA, tendo como
principal experiência o ensino em séries iniciais (1º a 5º anos).
Posteriormente eu soube que a professora pediu para sair de lá e retornou
ao ensino infantil.
A segunda professora, com a qual trabalhei no Estágio 3, era
formada em Pedagogia com uma pós-graduação na área empresarial. Ela
tinha um bom domínio dos conteúdos, diferente da professora anterior, por
causa da experiência de anos no ensino médio e EJA. Também ensinava
como monitora em duas escolas e conhecia os Parâmetros Curriculares
Nacionais- PCNs e Orientações Curriculares Nacionais- OCNs. Não tinha
conhecimento dos debates sobre o Referencial Curricular da Educação
14

Básica-RECEB. Conhecia bem os alunos e tinha uma boa relação com eles,
pois através dela pude compreender melhor a dinâmica do EJA e seus
objetivos ( lembrando que apenas o Estágio 4 não ocorreu em turma de
EJA).
Durante o Estágio 4 ocorreu alguns percalços institucionais, como a
lenta indicação da escola, o que me levou a dar continuidade no estágio na
E.E. Dr. José Maria Correia das Neves. A professora anterior tinha saído da
escola e acabei acompanhando duas professoras no turno matutino. Uma
professora ensinava todas as turmas do terceiro ano e todas as turmas
noturnas , e a outra foi responsável pelas turmas do primeiro e do segundo
anos da manhã.
A professora dos primeiros e segundos anos da manhã é formada em
Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas, sendo efetiva em
uma escola estadual em Marechal Deodoro, em decorrência do último
concurso da SEDUC-AL, em 2013, e monitora onde eu estagiei. A
professora é mestre em Antropologia Social pela UFS, demonstrando desde
o início do estágio sua preferência pelos temas antropológicos.
A professora dos terceiros anos ( manhã) e do Médio EJA de
Sociologia (à noite), é formada em Pedagogia. Com longa experiência
como professora por mais de 30 anos, ministrou as disciplinas Sociologia,
Filosofia e outras de Humanidades, incluindo turmas no ensino superior.
Ambas as professoras desenvolveram uma boa gestão da sala de aula
e demonstraram domínio dos conteúdos, o que geralmente não ocorre,
quando não são formados em Ciências Sociais. Muitas vezes o próprio
livro didático apresenta pela primeira vez alguns conteúdos para os
professores, servindo-lhes como orientação para seus próprios estudos,
como foi o caso da primeira professora.

15

O COTIDIANO DAS ESCOLAS

Para levar a bom termo o desenvolvimento deste capítulo seria
necessário conhecer o projeto político pedagógico das escolas, o que não
me foi solicitado durante a realização dos quatro estágios. O cotidiano
escolar poderia ser melhor observado se levássemos em conta as
orientações contidas nestes documentos, seus objetivos e metas. Deste
modo, seguem as considerações feitas nos relatórios de estágio, segundo as
orientações recebidas dos meus professores de Estágio.

CARACTERIZAÇÃO DAS TURMAS

Em todas as situações, as alunas e alunos vêm de bairros de periferia,
como já citado. Mas, além disso, qual o cotidiano desses jovens?
Começando pelas turmas do ensino médio regular, no horário
matutino, o número de alunos matriculados gira em torno de 30 a 35,
porém, nas aulas observadas, estiveram presentes até no máximo 25 alunos.
O número de alunos que frequentam as aulas é maior nos terceiros anos.
Quanto aos livros didáticos de Sociologia foram usados: Sociologia
Hoje, de Igor José de Renor Machado (Editora Ática, 2013), na E.E.
Aurelina Palmeira ; e o Sociologia: Volume Único, de Silvia Maria de
Araújo, Maria Aparecida Bridi e Benilze Lenzi Motim (Editora Scipione,
2013), na E.E. Correia das Neves. Tratam-se de livros didáticos aprovados
no Programa Nacional do Livro Didático- PNLD.
São turmas tranqüilas que são heterogêneas no quesito da
aprendizagem, com pouca diferença geracional, embora a evasão escolar
esteja presente na escola. Sobre o assunto, os Indicadores Básicos de
16

Alagoas informam que para todo o Estado a taxa de abandono/evasão do
ensino médio, no período 2012-2015, foi 13,8%, mais do que o dobro da
taxa brasileira ( 6,8%) ( Alagoas, 2017, p.36).
Quanto às turmas do EJA da primeira escola e da escola seguinte
onde acompanhei o período noturno, o que há tanto por parte dos
professores quanto dos alunos é um cansaço constante. Muitos alunos saem
do trabalho direto para a aula à noite, outros não trabalham, mas querem
concluir o mais rápido possível, e migram para essa modalidade, pois a
mesma oferece essa oportunidade. Trata-se de alunos mais velhos, sendo
alguns considerados alunos especiais, que por conta da defasagem do
oferecimento de uma educação inclusiva, migram para esse turno. No caso
dos professores, o cansaço é subjetivo e moral, pois ocorre por desestímulo,
bem como o cansaço físico de trabalhar em outras escolas durante o dia.

17

OBSERVAÇÃO EM SALA DO USO DE TEMAS E CONCEITOS
ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLOGICOS PELOS PROFESSORES E
ALUNOS

É importante o professor se valer do estudo anterior dos clássicos da
Sociologia a fim de unificar teoria e prática e conformar a conhecida
mediação pedagógica.

O trabalho permanente na sala de aula requer

avaliação constante do professor e seu método de ensino, seus recursos
didáticos,etc. Não é à toa que o central para o professor em qualquer
disciplina é fornecer os conteúdos necessários ao entendimento do aluno e
sua vida prática. No caso da Sociologia, de nada vale querer transformar os
alunos em “sociólogos”, pois eles são alunos de ensino médio e não de
Ciências Sociais, mas zelar pela aprendizagem de conceitos-chave na
disciplina. Nesse sentido o ponto de partida do professor de Sociologia é o
desenvolvimento do “estranhamento” e da “desnaturalização”, como
recomendam as Orientações Curriculares Nacionais e os Parâmetros
Curriculares Nacionais.
Bodart (2016), afirma ser o estranhamento o primeiro passo para
desenvolver nos alunos que chegam ao ensino médio hoje impregnados do
conhecimento primeiro, o do senso comum, a compreensão mínima de
como opera a sociedade, tendo como ponto central a capacidade de
questionamento das coisas como elas são. Isso só é possível em uma
operação semelhante ao do ensino de Filosofia, que é dialógico e consiste
no ato de fazer perguntas, que se mostra extremamente efetivo em
perspectiva sociológica em sala de aula.
Sobre a segunda característica, o autor segue afirmando que “por
desnaturalização chamamos a prática de olhar os fenômenos sociais
justamente como sendo “sociais”, ou seja, fruto de relações sociais que se
desenvolvem ao longo da História. Em outros termos, destacar que esses
18

fenômenos não são natural (fruto das determinações da natureza), mas
resultados de interesses, conflitos e cooperações sociais e, portanto,
possíveis de serem modificados.” (Bodart, 2016)
A

desnaturalização

é

a

capacidade

de

compreensão

ou

reconhecimento do mundo a sua volta não como obra divina, ou algo
natural que sempre existiu desde o início da humanidade, mas é situado
dentro de um conjunto de relações sociais específicas, ou seja, obra
humana.
Falar dos instrumentos sócio-antropológicos para alunos e alunos é
estar em conexão com a compreensão da sociedade por meio de uma
perspectiva científica levando em conta os conhecimentos prévios desses
alunos. Esses conhecimentos são necessários até mesmo para colocá-los à
prova na realidade, confrontando-os com os debates sobre os diversos
assuntos (racismo, política brasileira, etc.), seja com o objetivo de ampliar
os conhecimentos ou mesmo superar o senso comum pela via da
desnaturalização e problematização já tratadas no tópico anterior.
Um ponto importante é o da compreensão do conteúdo a partir da
expressão musicada ou via audiovisual do conceito a ser trabalhado em
questão. Para falarmos de um tema como globalização, o aluno pode pensar
no smartphone a ser usado e qual a relação do mesmo com o mundo em
que vive, percebendo que nesse smartphone está inserido um conjunto de
relações sociais que contribuem para sua existência. Não é tão difícil
desenvolver esse elemento relacional e sociológico no aluno, o problema
está em saber conduzir a discussão de maneira correta, não infantilizando o
mesmo.

19

A EDUCAÇÃO SEGUNDO OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA:
DURKHEIM, WEBER E MARX

Para entendermos a importância da mediação pedagógica numa aula
de Sociologia na escola média e seguindo o roteiro temático proposto em
cada livro didático, vamos comentar de forma breve as contribuições dos
autores clássicos do pensamento social sobre a educação.
Para o sociólogo Émile Durkheim educar envolve primeiro a
compreensão do que em sua obra se chama de “mundo moral”. Em que
constitui esse mundo? Seria composto pelas ideias aceitas por uma
coletividade e unifica as consciências individuais. Esse mundo moral é
composto de normatizações, sanções seja pela via da reprovação ou dos
recursos jurídicos, e regularia os comportamentos individuais.
Como isso se aplica à educação? Durkheim afirma que o objetivo da
educação coincide com o processo que chamamos de socialização.
Socialização envolve a inserção do indivíduo na sociedade assim como o
aprendizado de determinados comportamentos, ou seja, envolve um
conjunto de atitudes com relação a si e ao outro que precisam ser
repassadas. Isso vale tanto para uma educação mais fundamental para a
vida em sociedade, não importa em que grupo esteja esse individuo, mas
também a educação para aquele grupo profissional ou social, seja
engenheiro, advogado, professor.
O sociólogo Max Weber, em contraposição a Durkheim, possui uma
outra metodologia para tratar o tema do funcionamento da sociedade, e
também possui contribuições sobre o processo educacional a partir desse
método. Weber critica a “jaula de ferro” em que se transformou a educação
em seus tempos, sendo ela burocrática e excessivamente racionalizada. Daí
afirma ser a educação um processo pelo qual os indivíduos que
20

constantemente realizam ações sociais significativas são educados para a
vida racionalizada do capitalismo. Weber afirma que a educação
secularizada se transformou em uma educação com fins puramente
administrativos. Esses fins dizem respeito a administração do Estado
moderno, que necessitava de um corpo de funcionários especializados para
administrar o aparelho burocrático. Por isso o autor afirma que educar
envolve três processos: despertar do carisma, preparar o aluno para uma
conduta de vida e transmissão de conhecimento especializado.
Karl Marx (2005), a partir da análise crítica da sociedade capitalista
e seu funcionamento, debate o processo educacional em um contexto maior
dos acontecimentos provocados pela Revolução Industrial e o acirramento
dos conflitos das classes sociais fundamentais no capitalismo: burguesia e
proletariado. Marx analisa a educação recebida pelos filhos dos
trabalhadores ingleses para formular sua concepção emancipadora de
educação, afirmando que a educação assim como todo o sistema capitalista
tem como objetivo a reprodução das desigualdades sociais. Com base na
analise da luta de classes enquanto motor da história, o autor expõe que a
historia dos homens é a história de diferentes formas de se relacionar com o
trabalho. A forma como as pessoas exercem trabalho e transformam a
natureza influencia as demais formas sociais da superestrutura política,
jurídica e ideológica, incluindo a educação.

21

O CONTEÚDO DA REGÊNCIA

A aula sob minha responsabilidade- a regência- não me trouxe
dificuldade pois naquele momento eu já tinha quase quatro anos de atuação
como professor de Sociologia e Filosofia no ensino médio,portanto, já
estava familiarizado com algumas práticas docentes. Contudo, me trouxe
nova experiência, uma vez que já havia feito observação e estava na
condição de aluno de graduação fazendo Estágio .
A minha primeira e única regência foi para o 2º ano B, onde
trabalhei quatro conceitos na Sociologia: etnocentrismo, relativismo
cultural, cultura como civilização e identidade cultural. Através da
explicação dos conceitos e

utilizando os exemplos das vivências dos

alunos e alunas foi possível intercalar a explicação desses conceitos e
desenvolvemos bom debate, a exemplo do tema “intolerância com as
religiões de matriz afro”.
Não foi possível trabalhar com a regência com a professora dos
terceiros anos, pois o calendário mudou de uma hora para outra ( fato
recorrente na rede estadual de ensino) para um conselho de classe que iria
ser no dia de minha regência, prática recorrente na rede estadual de ensino.
Seria uma discussão exclusivamente para o ENEM, facilitada por mim
sobre o conceito de “modernidade liquida” a pedido dos próprios alunos e
da professora

22

7.1. Observações

Nesta parte do relatório irei falar um pouco de minhas observações diretas
durante os estágios e registrar os pontos positivos e negativos durante o
processo.

7.1.1. Estágios 1 e 2

Nos primeiros encontros conversei com a então professora e ela
confessou sentir se um pouco insegura para lidar com turmas de ensino
médio, por sua habilidade maior no campo do ensino infantil. Comecei a
acompanhar as suas aulas e percebi pontos positivos, de forma direta ou
indireta, visando o ensino: explorar alguns aspectos do cotidiano e temas da
atualidade. O tema em questão tratou da corrupção no Brasil.
Em uma aula para o EJA, percebi que a professora passou o mesmo
tema e exercício na maioria das turmas observadas, sem levar em conta as
desigualdades entre as turmas (maturação para o conteúdo, compreensão
etc). Em apenas duas turmas, o 2 °E e o 3° C, a professora explicou muito
rapidamente sobre o conceito de política em Weber, de uma maneira bem
geral. Pelo não conhecimento do RECEB e das OCNs, tratavam-se de
temas aleatórios para os alunos, o que também percebi, pela condução que
a professora deu em sala. Após a explicação, a professora passou uma
redação de no mínimo 30 linhas sobre o tema para três turmas: 2 °E, 3° C e
o 1° F. Percebia-se que as turmas não seguiam um todo coerente no sentido
dos assuntos a serem trabalhados em sala.
A recepção melhor ao conteúdo foi no 1° F . Apesar de mais jovens,
durante toda a aula os alunos prestaram bastante atenção no que a
professora dizia. Os alunos em sua maioria fizeram a atividade, apesar de
ter sido a última aula, onde em geral os alunos ficam com pressa de ir
23

embora por conta do horário.
As recepções mais difíceis foram no 2 °E e 3° C. Apesar de serem mais
velhos, muitos estavam na aula por marcarem presença e só, além de não
terem interesse no conteúdo e tampouco na disciplina. Para completar, a
professora não deixou claro os seus objetivos de ensino. Tanto a turma
quanto o desestimulo e pouco traquejo da professora na relação com os
alunos influenciaram de forma negativa na aula.

7.1.2. Estágio 3

A experiência no estágio em questão foi mais corrida, e ao mesmo
tempo mais completa enquanto observação de um professor de Sociologia.
Apesar de a professora ser formada em Pedagogia, pois concluiu o curso
em 2003 e ter duas especializações (Pedagogia Empresarial e Gestão de
Pessoas), percebi uma melhor condução da turma por parte desta, visto que
a aula não tinha interrupções que pudessem atrapalhar o andamento da aula
e a explicação entendível da professora.
Destaque para uma observação feita durante uma aula sobre
Movimentos Sociais para o 3º período EJA, cujo tema era sobre
movimentos sociais. A aula foi uma apresentação do trabalho passado na
aula anterior sobre o tema. Foi analisado os pontos ideológicos dos
movimentos e suas características no sentido de demandas sociais. A
professora ao se referir a alguns movimentos, como o Movimento dos
Sem-Terra, às vezes utilizava de argumentos do senso comum para
caracterizar os movimentos sociais. Podemos entender que esta não seria
uma parte muito boa da aula, o que impedia uma compreensão mais
profunda dos movimentos sociais para alem de suas bandeiras, bem como
de tratar do papel dos meios de comunicação de massa na deturpação das
causas desses movimentos. Apesar de tudo, a apresentação correu muito
24

bem, tanto pelo boa exploração do livro didático quanto pela aprendizagem
dos alunos.
Outro destaque é para uma aula no 1º período. A aula foi sobre
sociologia clássica. Escreveu um resumo sobre o que é a sociologia e seu
surgimento, para depois aprofundar nos autores clássicos. A professora
escreveu no quadro um resumo com o título “As transformações da
sociedade e as ciências sociais”. Promoveu um diálogo interessante com a
realidade dos estudantes a partir do estudo do que são as ciências sociais de
fato. O uso de exemplos que tratassem do tema das desigualdades sociais
também foi uma característica marcante dessa aula, e especialmente a boa
recepção da turma em questão. Essa turma é a que tinha maior disparidade
geracional (pessoas com 16 a 40 anos em uma mesma sala) e mesmo assim
a maioria dos alunos participou da aula.

7.1.3. Estágio 4

Aqui farei considerações sobre algumas aulas com conteúdos específicos
que corresponderam a momentos importantes na minha compreensão sobre
os debates em sala de aula de Sociologia no ensino médio, assim como
pude identificar processos de desnaturalização e estranhamento, ao passo
que houve valorização do conhecimento já existente entre os alunos.

a) Debate sobre políticas de ação afirmativa

Este debate ocorreu no meu momento de estágio com observação e
25

regência. As turmas em geral recebiam bem e prestavam atenção em cada
debate feito. Destaque grande para uma aula no 2º ano B, onde o debate
sobre cultura e identidade, com base no livro didático utilizado, promovido
pela professora acabou por dar margem a um pequeno debate sobre as cotas
raciais. Ficou evidenciado que existem diferentes percepções sobre o
problema entre grupos distintos de alunos, na mesma sala. Por conta de um
progressivo momento de reconhecimento de sua identidade (feminista,
LGBT e negra) presente nos últimos anos, parcela expressiva da juventude
residente nas periferias, público base da totalidade das escolas públicas
estaduais

e municipais,

se assume enquanto negro

ou

LGBT,

reconhecendo-se com um sujeito importante no processo educativo e bem
aberto a debater temas em Sociologia. Quero salientar que questões
conjunturais podem auxiliar o debate de determinados temas, se
consideramos uma maior ou menor aproximação dos alunos, em suas
experiências cotidianas.
Ocorreu com um bom andamento, que expressou duas posições dentro
desse debate: um favorável, defendeu a necessidade de uma reparação
histórica com os preconceitos herdados de uma cultura escravocrata no
Brasil que prevalece até hoje, ora velada, ora agressivamente. Dessa forma
a política de cotas não resolveria o problema em sua totalidade, mas seria
um primeiro passo importante para tratar desigualmente os desiguais, como
os defensores afirmam. Eu entendo que, em uma sociedade desigual, seria
impossível tratar a desigualdade apenas ao nível da igualdade jurídica.
Seria fundamental reconhecer a formação econômica e social do Brasil e
seu passado (e presente) racista.
A outra posição contrária, que só foi manifestada por um aluno, disse
que as cotas seria uma forma de “aumentar o racismo” e criar divisões, já
que segundo a ideologia meritocrática, se a pessoa estudar, por si só ela
consegue, pois todos são “iguais perante a lei” conforma afirma a
26

Constituição. Nesse sentido, essa posição ignora um conjunto de
condicionantes externos que facilitariam ou dificultariam o acesso da
juventude ao ensino superior, como a marginalização histórica da
população negra.
b) Debate sobre Educação e Sociedade
Um outro debate em uma outra oportunidade tratou o tema educação e
sociedade. Com base no livro didático, o debate foi produtivo. A turma se
dividiu em grupos e a professora passou uma pesquisa sobre dois nomes
centrais escolhidos, que foram importantes para esse debate. O educador
brasileiro Paulo Freire e Malala Yousafzai, ativista pelos direitos humanos
no Paquistão. A apresentação ocorre de forma tranquila, embora nem todos
tenham feito o trabalho no prazo estipulado pela professora. A professora
sempre que possível tentou fazer com que os estudantes refletissem, a partir
dos conceitos e trajetórias de vida de ambos os educadores e ativistas o seu
próprio contexto educacional em que viviam, chamando a atenção para o
fato de estarem em uma escola pública relativamente organizada, mas que
também tinha problemas como o de evasão.
Refletir de que forma a educação acaba sendo elitista, reproduzindo
assim as desigualdades sociais vigentes em nossa sociabilidade capitalista
foi o ponto de partida da professora. De que forma aqueles estudantes tendo
acesso a uma educação pública não valorizavam o suficiente a educação
que recebiam? Como propor estratégias de ação para reverter esse quadro?
Dessa forma a professora conquistava a simpatia dos alunos e conseguia
uma boa relação de reciprocidade com eles, pois os alunos viam que eram
escutados. Assim como no debate sobre cotas, na medida em que os alunos
se identificam com os temas estudados a participação em sala é estimulada.
Essa condução a fez ser vista como a “companheira mais velha”
27

dentre os alunos, e não como um professor afastado do contexto e da
realidade deles. A relação entre os conceitos, que são muito importantes,
para não dizer fundamentais, com a vivência do aluno precisa ser
estabelecida, assim como realmente aconteceu no caso das apresentações,
com todas as desigualdades presentes no perfil das turmas (umas mais
agitadas, outras menos agitadas).
O processo educativo dessa forma foi visto como algo mais coletivo.
Certamente estamos falando de um sistema estruturalmente tradicional.
Porém algumas brechas foram usadas pela professora para dar maior
dinamicidade a aula. Isso é fundamental em turmas de ensino médio.

c) Debate sobre Indústria cultural/ Diferença entre público e privado

A professora dos 3 º anos A e B passou um trabalho avaliativo. O
tema foi sobre indústria cultural, dado tanto em Filosofia quanto em
Sociologia. A professora passou um texto sobre a influência dos meios de
comunicação de massa na formação de nossas opiniões e gostos sobre algo
ou alguma coisa. É um exemplo bom para ser trabalhado com esse tema.
Os alunos, em sua maioria fizeram a atividade e se saíram bem prestando
atenção no que a professora falava, demonstrando interesse.
No terceiro ano A um grupo de estudantes se destacou mais e para
além de fazer a atividade debateu com a professora em um determinado
momento da aula, onde uma parcela ainda fazia a atividade por
“obrigação”. Esse grupo refletiu um pouco do que é uma parcela da
juventude hoje, que se reconhece em sua identidade ( um dos meninos é
LGBT), e conseguia se interessar pelos debates eventualmente conduzidos
pela professora. Ou seja, mesmo numa estrutura tradicional de ensino as
aulas de Sociologia no ensino médio criam oportunidades para uma maior
participação em sala de aula.
28

No terceiro ano B, em um outro dia, a professora passou uma
atividade avaliativa que tratou do tema da cidadania e a relação entre
público e privado. Para além do livro didático, a professora utilizou o livro
“Sociologia em Movimento”, trabalhando com a música do grupo Ultraje A
Rigor, “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, para fazer os alunos refletirem,
proporem ações importantes de cidadania, a partir da compreensão do que é
publico e privado, e de como isso afeta o desenvolvimento de nossa
cidadania.
O método avaliativo da professora nessa situação específica, em
minha visão se deveu a dois condicionantes: um é a precarização máxima
do ensino, outra é uma razão puramente pedagógica. Trabalhar com
questões excessivamente conceituais, sem ligar com a realidade dos
mesmos seria improdutivo. A própria pressão das escolas públicas e
privadas quanto a aprovação automática contribui para isso, em certa
medida. Mas o que pode ser extraído de positivo pedagogicamente é o
interesse da professora em aproveitar essa brecha do sistema educacional
para trabalhar esses temas.
As turmas do terceiro ano A e B variam entre a participação nos
debates e a apatia, pois alguns estão querendo concluir logo o ensino
médio. Apenas alguns grupos queriam aprofundar o debate proposto pela
professora. Destaque no último dia de aula foi a agitação do 3 ºA, um
pouco antes do intervalo, contida pela professora. A propósito, é possível
tratar os primeiros e segundos anos como melhores em participação do que
os terceiros, não pela metodologia das professoras, mas pela dinâmica das
turmas e seus propósitos, a forma como as turmas se enxergavam no
contexto da escola, etc.
Não foi possível trabalhar com as regências com a professora dos
terceiros anos, pois o calendário mudou de uma hora para outra para um
conselho de classe que iria ser no dia de minha regência, prática recorrente
29

na rede estadual de ensino. Seria uma discussão exclusivamente para o
ENEM, facilitada por mim sobre o conceito de “modernidade liquida” a
pedido dos próprios alunos e da professora.

AUTOAVALIAÇÃO

Minha percepção dos estágios onde participei ativamente foi o fato de
que essa experiência ter me servido para aprimorar a prática docente e
desenvolver em maior grau a minha mediação pedagógica no trato com os
alunos. Foi durante os Estágios que eu senti pela primeira vez que uma
diferença grande em relação ao curso de Bacharelado. Entendo, de modo
geral, que os Estágios funcionaram como o desenvolvimento de uma
espécie de pesquisa educacional sobre as condições de trabalho docente,
onde ao mesmo tempo o professor é pesquisador e sujeito, sendo assim um
complemento importante para a minha compreensão tanto teórica como
prática da profissão docente.
Ressalto novamente que conhecer o projeto político pedagógico de
cada escola poderia ter contribuído para que eu tivesse uma visão mais
ampliada sobre cada questão escolar.

30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências práticas e também do ponto de vista do estudo do
ensino de Sociologia no ensino médio me proporcionaram a capacidade de
reavaliação de pontos que sempre são passíveis de melhorias na chamada
mediação pedagógica. Em geral, o professor precisa desenvolver a
capacidade de se autoavaliar sempre, tanto em relação a sua pedagogia
como também a relação professor e aluno e recursos didáticos usados. Isso
se torna ainda mais pertinente quando se aplica ao professor de Sociologia.
Sabemos que a disciplina ainda não é de todo consolidada
socialmente. Em meio aos ziguezagues de retirada/manutenção da
Sociologia

como

disciplina

obrigatória

na

história

brasileira,

o

conhecimento do que representa a disciplina hoje perpassa um bom

31

conhecimento do que foi a mesma em outros momentos e também requer
compreender o que é de fato ensinar Sociologia. As categorias de
estranhamento e desnaturalização trabalhadas neste relatório são um
elemento comum à problematização de inúmeros pesquisadores na
Sociologia da Educação e na Antropologia da Educação.
Ser professor de Sociologia é reavaliar-se sempre, estar sempre
atento não só ao domínio de sua matéria, mas também atento aos métodos
usados em sala de aula para trabalhar conceitos, teorias e temas com quem
está conhecendo a disciplina pela primeira vez e se pergunta para que a
mesma serve nas vidas deles. Fazer a diferença como professor de
Sociologia é fundamental nesse processo.

32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALAGOAS. Indicadores Básicos de Alagoas, v. 3, 2017. Disponível em
http://dados.al.gov.br/dataset

ARAÚJO, Sílvia Maria de, et.al. Sociologia: volume único: ensino médio. Editora Scipione,
São Paulo, 2013.

AFRANIO, et all. Sociologia em Movimento. 1ª ed. São Paulo: Ed. Moderna, 2013.
BODART, Cristiano. Qual Sociologia queremos no Ensino Médio? Disponível em: <<
https://cafecomsociologia.com/2016/12/que-sociologia-queremos-no-ensino-medio.html>>
Acesso em nov. 2017.

CIGALES, Marcelo Pinheiro. O ensino de Sociologia no Brasil: perspectiva de análise a partir
da história das disciplinas escolares. Revista Café com Sociologia, v.3, nº 1., Jan.2014.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2011.

FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos Professores.Revista Estudos Avançados,
2001.
Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo, Paz e Terra, 1996.
MACHADO, Igor José de Renó. et.al. Sociologia Hoje: Volume Único. São Paulo, Ática, 2013.

MARX; ENGELS. Manifesto do Partido Comunista, 2005. Boitempo.
33

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro. Lamparina, 2007.

WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.
Editora Universidade de Brasília, São Paulo, 2004.

ANEXOS

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I.

PLANEJAMENTO DA REGÊNCIA (ESTÁGIO IV)

II.

QUESTÕES SOCIOLOGIA SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL PARA OS
TERCEIROS ANOS A E B (TEXTO EM ANEXO)

III.

QUESTÕES SOCIOLOGIA SOBRE CIDADANIA (EXTRAÍDAS DO
LIVRO “SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO”)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

I.

PLANO DE AULA – REGÊNCIA

Curso: Ciências Sociais
Disciplina: Estágio Supervisionado 4
Professor: Tomás Farcic Menk

SÉRIE: 2º ano B,
DURAÇÃO DA AULA: 50 minutos
DISCIPLINA: Sociologia
EIXO TEMÁTICO: Cultura e Etnocentrismo

EMENTA:

O objetivo desta aula é dar continuidade ao tema da cultura, trabalhando os
conceitos de etnocentrismo, relativismo cultural, cultura como civilização e

36

identidade cultural. No decorrer da aula vamos trabalhar esses conceitos
como interligados e entender como eles se aplicam a diversos temas atuais.
Trabalharemos o conceito de etnocentrismo tendo como ponto de partida o
seu significado em Sociologia, ou seja, a visão de sua cultura como
superior as demais. De que forma expressamos atitudes etnocêntricas em
nosso cotidiano? De que forma uma simples postura etnocêntrica, comum
em todas as sociedades, e que se baseia no estranhamento, pode evoluir
para uma conduta discriminatória contra certos grupos marginalizados, ou
contra um outro povo? O que fazer para superar isso e quais são as
possíveis atitudes que devemos tomar em nossas vidas para desconstruir
essas posturas?

O relativismo cultural é uma atitude oposta ao etnocentrismo por trabalhar
com o respeito à diversidade cultural. Dessa forma, não existiria uma
cultura ou um povo “superior”, tampouco existiriam sociedades ditas
“primitivas”. Cada sociedade construiria seus próprios valores e cultura,
cabendo as demais culturas que em um primeiro momento se sentirem
tomadas pelo estranhamento, respeitar essas manifestações e o direito à
identidade cultural, do que falaremos agora.

Definimos identidade cultural como a marca característica de um grupo
social, que compartilha de uma serie de valores, ideais e costumes passados
ao longo das gerações em sua história. Como identificar nossa identidade
cultural?

De que forma o conceito de cultura foi trabalhado ao longo dos contextos
históricos? A diferença entre cultura e civilização foi um debate muito
marcado por posições dos momentos históricos do século XVIII e XIX.
Cultura, nessa época, esteve muito influenciada pela noção de progresso e
37

“bons costumes”. Veremos como esse conceito mudou ao longo do tempo
com o fim da hegemonia da antropologia evolucionista e o surgimento de
novas preocupações, especialmente dialogando com a Antropologia do
século XX (estrutural-funcionalismo, Franz Boas etc)

OBJETIVOS

- Caracterizar o que é etnocentrismo e como perceber as suas manifestações
em nossa sociedade, desde as que evoluem para preconceito cultural ou as
manifestações mais sutis.
-Compreender as identidades culturais de outros países e sociedades a
partir dos conceitos de identidade cultural
-Desenvolver competências/habilidades fundamentais para o respeito às
diferenças religiosas e culturais.

METODOLOGIA

1.Recursos didáticos

- Aula expositiva e ao mesmo tempo dialógica. Quadro e piloto.

2.Avaliação

- Analisar a participação e o bom entendimento dos alunos dos conceitos
trabalhados em sala.

REFERÊNCIAS:

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ARAÚJO, Sílvia Maria de, et.al. Sociologia: volume único: ensino médio.
Pg.124-129, Editora Scipione, São Paulo, 2013.

II. QUESTÕES SOCIOLOGIA SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL PARA OS
TERCEIROS ANOS A E B
1) Analise o texto e responda se os meios de comunicação tem o poder de
influenciar sua opinião. Justifique sua resposta.
2) Qual a razão você considera mais importante para a mídia filtrar o que comunica
ao público?
3) Como cidadão, o que você pode mudar e obter a liberdade de tomar a decisão
sem manipulação?

III. QUESTÕES SOCIOLOGIA SOBRE CIDADANIA (EXTRAÍDAS DO LIVRO
“SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO”)
1) Se a praia é um lugar público, por que algumas pessoas a freqüentam e outras
não?
2) O pertencimento a uma classe social pode se tornar uma barreira para a livre
circulação nos espaços da cidade?

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